Terapia no mundo antigo e suas implicações para um diálogo entre psicologia e teologia

por Davi C. Ribeiro Lin

Introdução

Este artigo recupera a ideia de terapia na antiguidade visando reconhecer referências de saber interdisciplinar e caminhos de diálogo para a psicologia. Em outras palavras, porque a filosofia antiga e a teologia patrística tem uma concepção elaborada de terapia da alma muitos séculos antes da psicologia fazer-se ciência, a relação entre psicologia e outros campos do saber não é necessariamente uma história de conflito inevitável, mas pode abrir-se a um diálogo interdisciplinar de cooperação e enriquecimento mútuo. Se a psicologia quiser manter um ouvido atento em tempos de polarização e radicalismos no campo religioso e científico, ela é convidada a cultivar um diálogo respeitoso entre diferentes campos do saber, mantendo tanto uma postura epistemológica clara quanto intencionalmente evitando uma miopia histórica que desconhece as potencialidades e limites de tradições e saberes anteriores a própria ciência psicológica. No atual contexto brasileiro, fomentar um caminho de interdisciplinaridade entre teologia e psicologia torna-se necessário diante do crescente processo de disjunção e ausência de diálogo entre fé religiosa e ciência ou uma sobreposição que não compreende a singularidade de cada enfoque.

A terapia na antiguidade

Pierre Hadot destaca que a filosofia no mundo antigo relacionava-se a uma escolha de um modo de vida em comunidade integrando discurso filosófico como teoria com uma prática existencial. Consequentemente, a filosofia antiga difere radicalmente daquilo que conhecemos por filosofia no século 21: era uma escolha por um caminho filosófico, não como um apêndice da reflexão, mas seu ponto de partida, integrada a uma visão global de certo modo de viver.¹ O discurso filosófico na antiguidade relacionava-se a uma escolha de opção existencial, nunca feita por um indivíduo isolado, mas orientado por uma escola rumo a um ideal de felicidade. Exigia uma mudança de estilo de vida e conversão do ser como uma preparação para a sabedoria.² Uma essencial tarefa das diferentes escolas filosóficas relacionava-se a justificar essa escolha existencial, incorporando sua visão de mundo à prática, na qual o discurso filosófico expressava um caminho terapêutico de um tipo de vida escolhida. 

A filosofia na antiguidade clássica tinha como tarefa principal a terapia da alma. Cícero (106-43 a.C.), orador, filósofo e político Romano, descreve a necessidade de se despertar no paciente um conhecimento sobre a ambiguidade de seu próprio estado de enfermidade:

“A alma julga sobre si mesma quando justamente o que nela julga está doente.”³

Ao contrário da filosofia moderna, que se ocupou mais com fundamentações normativas, a ética antiga centrou-se na busca da felicidade e do sumo bem, e desembocou em um desenvolvimento de uma ars vivendi, uma metodologia terapêutica para se alcançar a meta de uma vida.4 A consequência é que a filosofia antiga tomou para si a necessidade da criação de métodos que conduzissem um ser humano ao caminho da felicidade, propondo um autoconhecimento e métodos terapêuticos pelos quais o homem tornava-se cônscio de sua enfermidade, e assim poderia ser conduzido ao caminho da felicidade. Portanto, aquilo que hoje conhecemos como parte do objeto de estudo e prática da psicologia era na antiguidade uma ocupação filosófica. O papel do terapeuta na era helenística era ocupado por guias filosóficos que curavam através da palavra: o discurso precisava adequar-se ao estado do paciente e o uso da retórica buscava um ideal de florescimento, não como um deus nem como um animal, mas como um humano. Conversas pessoais com um sábio filósofo buscavam harmonia com o universo, em uma concepção na qual a psicologia e a física não se distanciavam, mas participam da mesma ordem cosmológica em vistas a uma opção existencial de realização da felicidade humana. 

Pode-se afirmar que aquilo que conhecemos hoje como prática psicoterapêutica não era totalmente compreendida no mundo antigo; no entanto, suas raízes têm uma longa tradição na história das ideias psicológicas. Uma incipiente psicoterapia foi desenvolvida na antiguidade nos campos da história médica, filosofia e da teologia na tradição judaico-cristã. Também é relevante notar que, mesmo no mundo antigo, as disciplinas já estavam encontrando suas especificidades. Hipócrates, que encarnou os valores do que é hoje a profissão médica, tendeu a destacar o tratamento somático, embora ele se esforçasse por ter mente e corpo sadios. Os filósofos, em contraste, eram hábeis na cura através de belas palavras, na arte da retórica. 

A tradição filosófica da terapia helenística também foi denominada como “psicagogia”, um sistema de cuidado dedicado ao desenvolvimento holístico do seguidor. Como bem sintetiza Paul Kolbet, a psicagogia refere-se a

“tradições de terapia filosoficamente articuladas, comuns na literatura helenística, relativas a como uma pessoa amadurecida leva os menos maduros a perceber e internalizar a sabedoria por si mesmos. Essas tradições, além disso, enfatizam que para o discurso terapêutico ser eficaz, ele deve se basear no conhecimento e persuadir adaptando-se de maneiras específicas tanto ao estado psíquico do receptor como à ocasião particular.”5

Consequentemente, não é difícil perceber como esse ideal cultural também influenciou o cristianismo e a seguinte articulação teológica. A Psicagogia também foi apropriada por judeus e cristãos, que interessados ​​em desenvolver meios para o desenvolvimento da pessoa humana a partir da perspectiva da fé, integraram a tradição judaico-cristã com os ensinamentos da filosofia helenística.

Fílon e os terapeutas de Alexandria viveram no primeiro século da era cristã em um caldeirão de encontro entre cultura grega e tradição judaica. Reconhecendo que a tarefa da filosofia era terapêutica e integrando-a no judaísmo helenístico, cultivou um modelo integrado da unidade da pessoa. Seu modelo de saúde não se limitava ao corpo ou retirava o olhar das dimensões psíquica e espiritual da vida, mas buscava-se um cuidado com a pessoa humana em seu corpo, alma e espírito: terapeutas com uma antropologia holística, buscando o cuidado de ser em suas dimensões corporal, psíquica e espiritual em sua integralidade constitutiva.6  Ao terapeuta cabe uma escuta que não é somente um ato corporal, mas a condição para a saúde psíquica e que se revela uma postura espiritual.7 O ouvir é o primeiro chamado da shema hebraica, “Ouve, ó Israel”. A consequência é que se institui um modelo antropológico holístico com escuta integral que inspira na atualidade um trabalho em conjunto de diferentes disciplinas, como medicina, psicologia e espiritualidade. Fílon efetua uma síntese terapêutica entre as tradições da antropologia judaica e a helenística: exemplo de uma prática na tradição de matriz judaico-cristã que, ao inserir-se em um diálogo com a cultura helênica de maneira frutífera, se posiciona contra um olhar fragmentado ao indivíduo e a favor do cuidado com a pessoa inteira. 

Com o desenvolvimento da fé cristã em um corpo de saber e perspectiva teológica, a teologia valida o ideal filosófico de terapia e o apropria dentro da tradição cristã. Na interação entre a herança greco-romana e a tradição judaico-cristã, filósofos cristãos acolhem para si práticas da filosofia helenística e as adaptam afirmando a fé cristã como a verdadeira philosophia. Agostinho (354-430), orador e retórico na corte imperial de Milão, e posteriormente bispo de Hipona, era consciente de que as palavras não somente informam, mas performam e moldam a direção dos afetos. Em uma de suas cartas, ele recomenda um tratamento da vida interior, algo que parece aproximar-se de uma recomendação a psicoterapia em dias atuais:

“se esses problemas te incomodam, assim como eles me perturbam, discuta-os com algum médico do coração (cordis medico), caso encontres alguém onde moras ou quando fores a Roma.”8

Agostinho é possivelmente, o maior responsável na adaptação cristã do modelo clássico de terapia. Apesar de conservar os mesmos ideais por sabedoria que herdou da leitura de Cícero, Agostinho vê no Christus Medicus o modelo do sábio médico filosófico: a encarnação de Cristo, sua humanidade, permitiu uma troca, na qual os seres humanos trazem suas doenças, mas através de sua identificação com as feridas humanas, Cristo os dá vida. A consequência é que Agostinho retém o ideal filosófico, e ao mesmo tempo, traz a ideia de terapia para a cristologia e a teologia. 

Confissões, uma expressão autobiográfica de um narrar sobre si dentro de um horizonte relacional-terapêutico, descreve a jornada da conversão da vida interior de Santo Agostinho em direção a uma vida relacional mais autêntica. Sua conversão, ao deixar a carreira como um profissional do mercado da oratória e retórica, é também um novo jeito de comunicar-se com o mundo, um manifesto de uma vida interior que abandonou a manipulação das palavras visando o ganho pessoal. Agostinho percebe-se como alguém que é feito a partir de relações de acolhimento e graça. Suas noções elaboradas sobre interioridade, memória e um ideal comunitário de transformação da vida interior sinalizam que a antiguidade, tanto na filosofia quanto na teologia, já era dotada de modelos psicológicos complexos. Apesar de não terem um caráter científico moderno, limitados pelo próprio avanço e horizonte dos antigos séculos, tanto a filosofia helenística, quanto a teologia patrística se propunham a cuidar da pessoa humana e de seus processos psíquicos. Como aponta Paul Kolbet, situar Agostinho como antigo terapeuta, ou pelo menos um proto-terapeuta, permite-nos compreender a complexidade de um saber psicológico de outra época e ao mesmo tempo tomar consciência de nossas próprias pressuposições. Ao tomar uma tradição filosófica complexa como a da filosofia clássica e produzir um modelo filosófico teológico profundo como o descrito em Confissões, Agostinho de Hipona aponta para a possibilidade de pessoas com um conhecimento teológico produzirem um saber psicológico aprofundado contendo elementos originais.

Um dos desafios da psicologia na contemporaneidade e da nossa profissão enquanto psicoterapeutas é que podemos sofrer de uma miopia histórica. Enquanto ciência nascida no século 19, gerada na confluência das ciências naturais, filosofia e estudo da fisiologia, a psicologia estabeleceu uma necessária relação de diferenciação. Entretanto, distinção não significa necessariamente banimento de diálogo, mas clareza e limites necessários. Pelo nosso desconhecimento do saber psicológico anterior ao século 19, a psicologia pode fechar-se em uma atitude de afastamento em vez de mutuo enriquecimento com campos como a filosofia e a teologia. Apesar das transformações históricas nos diferentes campos do conhecimento e da distância entre antiguidade e contemporaneidade, teologia, filosofia e psicologia podem participar de um diálogo interdisciplinar fecundo, reconhecendo limites e possibilidades, se retém tanto epistemologias próprias e claras quanto uma abertura a construção de pontes de contato.

A ideia de conflito inevitável entre saber científico e a espiritualidade é também fruto de uma ciência nascida em um momento histórico que reforçou a distância entre a ciência e a expressão religiosa. No século XIX, com o desenvolvimento de ciência e de uma classe distinta – o cientista – ganha-se força o discurso de confronto inevitável entre ciência e comando religioso. A nova classe de cientistas questiona a autoridade da igreja: as ciências nascidas no século XIX e início do século XX tenderam a se estabelecer em contraposição a linguagem religiosa. A ideia de conflito inevitável carrega também contornos de substituição de saberes, como exemplificada pelo cientista natural e evolucionista Thomas Huxley. Seus textos científicos são descritos como “sermões”, e o museu de história natural é “a catedral da natureza”. A psicologia nasce neste contexto do século XIX, com uma visão de conflito entre ciência e fé. Em O Futuro de Uma Ilusão, de 1927, Sigmund Freud parte do princípio de que a religião foi criada pelo homem por motivos de auto-conservação, por seus desejos pulsionais; é uma projeção de sua orfandade, de um narcisismo infantil, e portanto, o ser humano precisa da descrença para abrir-se à liberdade. Há de se notar que a crítica de Freud é válida quando a religiosidade reproduz medos infantis e não permite um amadurecimento humano. Entretanto, nem todos os psicanalistas que correspondiam com Freud compartilhavam de sua mesma visão sobre a questão religiosa, como no caso do pastor reformado, teólogo e psicanalista Oskar Pfister, com quem Freud manteve uma amizade e extensa correspondência por trinta anos. Como se evidencia na rica correspondência entre ambos, as dissonâncias não impediram um diálogo fecundo. 9

Caminhos de interdisciplinariedade

A primeira condição necessária para que a psicologia reconheça-se como um saber em diálogo é uma clareza epistemológica entre o campo religioso e o científico. No excelente texto “ser cristão e ser psicólogo”, endereçada ao Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC) a psicanalista e doutora em teologia Karin Wondracek descreve diferentes modos de interação entre psicologia e fé, em um contínuo que vai desde perigosos atalhos de junção a dissociações reativas. 10 Wondracek também discute o aporte da psicologia da religião, as contribuições propriamente teológicas e como algumas junções entre psicologia e fé podem ser prejudiciais. O argumento reforça que não é justo que se use no consultório oração aos santos, bíblia, mediunidade ou florais esotéricos ao invés de sua abordagem teórica, abandonando Freud, Rogers, Gestalt, substituindo a técnica pela religião. É desleal e antiético quando profissionais religiosos não levam a ciência a sério e a metodologia terapêutica de sua abordagem: deixam a formação que receberam nos anos de graduação em psicologia, transformando um espaço de escuta em outro de pregação. A máxima bíblica “de graça recebestes, de graça dai” também se aplica: parafraseando as palavras do próprio Cristo, não se pode esperar ganho financeiro quando se usa uma mensagem espiritual como método de intervenção terapêutica. O próprio Cristo criticou os líderes religiosos de seu tempo que, em nome de uma religião neurótica, impunham fardos sobre os mais simples.

Apesar dos atuais esvaziamentos na compreensão dos limites entre saberes, paradoxalmente, a própria tradição teológica é rica nesta interface interdisciplinar que respeita as balizas de ambos os campos. Desde o Concílio da Calcedônia do ano de 451, que articulou mais profundamente a dupla natureza de Cristo, mantendo tanto sua natureza divina e humana, articulam-se teologicamente duas dimensões diversas, sem perder a validade e singularidade de ambas. O concílio não apenas conceitua uma verdade a respeito das duas naturezas do Cristo, mas se torna um paradigma para dialogar campos e diferentes saberes.11 Ao recuperar o paradigma proposto por Calcedônia, o teólogo de Princeton James Loder é um exemplo de capacidade de diálogo interdisciplinar entre psicologia e teologia a partir da antropologia teológica.12

Há de se perceber, portanto, que a ausência de um básico conhecimento teológico entre profissionais que se dizem cristãos fomenta a incapacidade de diálogo entre os campos religioso e o científico. Não é o saber teológico ou a expressão da doutrina o problema, mas uma superficial religiosidade que não permite um aprofundamento na mesma. Infelizmente, uma devoção cristã que pouco conhece a própria tradição teológica, seja ela Católica ou Protestante, pode reduzir-se em um fechamento, uma redoma anti-intelectualista que impede o aprofundamento interdisciplinar.  Há, entretanto, dentro dos recursos da própria tradição religiosa, elementos que facilitam e provocam o diálogo respeitoso com a ciência e a psicologia. A fé cristã, assim como a experiência espiritual em diferentes religiões, busca o florescimento da experiência humana e do bem comum de toda sociedade, e como objetivo de cuidar da pessoa e de seu mundo, e se insere em objetivos semelhantes ao que se propõe a psicologia.  

Por outro lado, parece-me que uma atenção à questão religiosa e as expressões da espiritualidade humana precisam achar espaço nos diálogos da psicologia. As perguntas mais fundamentais sobre o sentido de vida, transcendência e o absolutamente Outro parecem fazer parte da vivência humana ao longo dos séculos e possivelmente, de toda constituição humana. Se, em reação ao fundamentalismo religioso, pressupomos que a experiência religiosa certamente tem elementos patológicos, não acompanhamos a experiência humana dos nossos pacientes. O risco é invalidarmos a experiência religiosa quando ela é expressão humana de uma busca por sentido e transcendência. Se considerarmos que a vivência religiosa é doentia, ela já se constitui um olhar terapêutico enviesado e para nós já tem, a partir de nosso olhar presente, o futuro de uma ilusão. Infelizmente, porém, se desvalidamos previamente a experiência de fé da pessoa, corremos o risco de não realizarmos a contemplação desinteressada da epoché fenomenológica de Husserl ou a aceitação incondicional de Carl Rogers: não acompanhamos a pessoa. Não acolhemos o sofrimento e a nossa capacidade de empatia fica reduzida. Não proponho que vejamos todos os processos religiosos na clínica psicológica como saudáveis, mas que mantenhamos a abertura de toda boa ciência ao mistério da vida que se apresenta. 

A pergunta sobre Deus e o sentido da vida parece perpassar a própria constituição da experiência humana: quer a acolhamos ou não, ela não deixará os consultórios de psicologia. A esta separação que não acompanha a pessoa, que faz da disjunção entre psicologia e fé o seu objetivo primeiro, também podemos tragicamente chamar de fundamentalismo. Creio que em épocas de polarização como a nossa, precisamos rejeitar os dois fundamentalismos, o religioso e o secular, em nome de um diálogo respeitoso que considere a integridade do conhecimento científico. Paralelamente, os psicólogos na clínica são chamados a recusar respostas prontas e permanecer diante do Mistério, pois como indica Ancona-Lopez, o símbolo religioso, a palavra e o rito excedem a capacidade de compreensão racional:

“a inclusão da experiência religiosa na clínica psicológica exige abertura para a metáfora, para os símbolos, para o desconhecido, para o reconhecimento do instante fugaz em que um significado, restaurado, torna-se pleno de vida.” 13

Conclusão

Dizer que não é possível praticar psicoterapia e ao mesmo tempo cultivar uma abertura a dimensão religiosa dos clientes é uma atitude reducionista e constitui-se como miopia histórica. Ao longo dos séculos, desde a antiguidade, pessoas que cultivavam princípios filosóficos e valores religiosos se envolveram para contribuir para o avanço da cultura, arte e ciência, porque viam em sua vocação profissional um modo de cultivar e servir no mundo e ao bem comum. Aqueles entre nós com uma vivência espiritual fecunda carregam uma consciência de que a vida inclui a dimensão do mistério: sem transcendência, seja ela através da arte ou da experiência espiritual, os valores da sociedade passam a ser guiados por uma sociedade capitalista e materialista que adoece a saúde emocional.  

O caminho da interdisciplinaridade entre teologia e psicologia torna-se urgente diante do crescente processo de disjunção entre fé e ciência e sobreposição que não compreende a singularidade de cada enfoque. Um caminho de diálogo profícuo entre ciência psicológica e fé dependerá da formação de profissionais em psicologia que tenham um respeito à dimensão humana em sua procura por transcendência e sentido; consequentemente, estarão abertos a acolher a busca contida na experiência religiosa dos seus clientes. Cabe à psicologia não somente reforçar as singularidades de cada campo, mas em uma atitude de humildade diante das fontes que recebemos do passado, abrir-se à interdisciplinaridade, incluindo pessoas com uma espiritualidade viva que queiram contribuir à psicologia cultivando rigor acadêmico e prática profissional ética. 


Assista a seguir: Neurologia e Teologia, onde elas se cruzam? (palestra do Dr. Roberto Covolan, presidente da ABC²)


Notas

1 Hadot, Pierre. What Is Ancient Philosophy? (Cambridge: Harvard University Press, 2002), 3

2  Ibid., 4.

3 Cicero, Tusculanae disputationes, III 1.

 4 Johannes Brachtendorf, Confissões de Agostinho (São Paulo: Loyola, 2008), 14.

5  Paul R. Kolbet, Augustine and the Cure of Souls: Revising a Classical Ideal (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2010), 8.

 6 Jean-Yves Leloup. Prendre soin de l’être: Philon et les thérapeutes d’Alexandrie (Paris: Albin Michel, 1999). 

 7 Ibid., 83.

8  Santo Agostinho, ep. 95.6.

9 Karin Wondracek, O amor e seus destinos: a contribuição de Oskar Pfister para o diálogo entre psicanálise e teologia (São Leopoldo: EST/Sinodal, 2005). Ver também Karin H. K. WONDRACEK & D. JUNGE (orgs.). Cartas entre Freud & Pfister (1909-1939): Um diálogo entre a psicanálise e a fé cristã. Viçosa, MG: Ultimato, 1998

10  Karin Wondracek, Ser cristão e ser psicólogo, em Psicoteologia, 2º. semestre 2013.

11  Ibid,. 13-14.

12  James E. Loder, The Logic of the Spirit: Human Development in Theological Perspective. (San Francisco: Jossey-Bass, 1998).

13  Ancona-Lopes, Marília. Religião e psicologia clínica: quatro atitudes básicas. In: Massimi,
M.; Mahfoud, M.. Diante do mistério: Psicologia e senso religioso (São Paulo: Loyola, 1999), 85. 


Bibliografia

Agostinho, Santo. Epistola 96. In: Library of Latin Texts: CLCLT-5. Moderante Paul Tombeur. Turnhout: Brepols, 2002. 3 CD-ROMS. (Database).

Agostinho, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 1984

Ancona-Lopes, Marília. Religião e psicologia clínica: quatro atitudes básicas. In: Mahfoud,
M.; Massimi, M.. Diante do mistério: Psicologia e senso religioso. São Paulo: Loyola, 1999.

Brachtendorf, Johannes. Confissões de Agostinho. São Paulo: Loyola, 2008.

Cicero. Cicero’s Tusculan Disputations. Also, Treatises On The Nature Of The Gods, And On The Commonwealth. Project Gutenberg, 2005.

Freud, Sigmund. O futuro de uma ilusão. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

Hadot, Pierre. What Is Ancient Philosophy? Cambridge: Harvard University Press, 2002.

Kolbet, Paul R. Augustine and the Cure of Souls: Revising a Classical Ideal. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2010.

Leloup, Jean-Yves. Prendre soin de l’être: Philon et les thérapeutes d’Alexandrie. Paris: Albin Michel, 1999.  

Loder, James E. The Logic of the Spirit: Human Development in Theological Perspective. San Francisco: Jossey-Bass, 1998.

Karin Wondracek, O amor e seus destinos: a contribuição de Oskar Pfister para o diálogo entre psicanálise e teologia. São Leopoldo: EST/Sinodal, 2005.

Karin Wondracek, “Ser cristão e ser psicólogo”, Psicoteologia, 2º. semestre 2013, 8-15.  


Este artigo foi parte do livro Psicologia, laicidade, espiritualidade, religião e outras tradições, publicado pelo Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais.


Sobre o autor

Davi Chang Ribeiro Lin é psicólogo pela Universidade Federal de Minas Gerais, especialista em psicologia clínica, mestre em teologia pelo Regent College (Vancouver,Canadá). É doutor em teologia pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven, Bélgica) e pela Faculdade Jesuíta. Sua tese “Relational Confession as Therapy of the Heart? A Postmodern Dialogue between Augustine of Hippo’s Confessions and Elementary Experience in Psychology” é fruto de uma trajetória de diálogo interdisciplinar entre teologia patrística (Agostinho), psicologia, história da igreja, filosofia e antropologia teológica.

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