A reflexão a seguir foi adaptada de um sermão pregado pelo Dr. Wes Avram, pastor da Pinnacle Presbyterian Church em Scottsdale, Arizona, na véspera de Natal de 2014, baseado em Mateus 1:18–2:12. Ela faz parte de uma série de devocionais de advento publicada pelo projeto “Science for the Church”, que buscou relacionar o tempo de espera pelo Messias com temas de ciências.

Grande e Pequeno

“Se o metro é a medida dos humanos, então estamos mais próximos dos quarks do que dos quasares. No entanto, se considerarmos o segundo como o pulsar de nossas vidas, estaremos mais próximos da idade do universo do que do tempo de vida dos quarks elementares”.

É assim que Timothy Paul Smith começa seu notável livro, How Big is Big and How Small is Small (Oxford University Press, 2013). Deixe-me tentar explicar o que ele disse da seguinte maneira: se você fizesse uma linha numérica longa e plana e colocasse a si mesmo na posição 1, poderia dobrar seu tamanho em 10 elevado à 25ª potência, ou seja, 10 com 25 zeros, para chegar ao limite do universo observável. Agora, se você fosse para a esquerda e reduzisse seu tamanho à menor das coisas que conseguimos discernir, chegará a um fator de cerca de 10 com 18 zeros. Nesse ponto, você está na zona subatômica de quarks e glúons e coisas sobre as quais eu não sei nada. São coisas que aceitamos que existem não porque podemos vê-las, mas porque podemos discernir seus traços, como se captássemos seus ecos. E muitos cientistas que medem coisas tão pequenas acham que talvez não tenhamos chegado ao fim, e que pode haver coisas ainda menores.

Como diz Timothy Smith na primeira frase de seu livro, você e eu estamos apenas ligeiramente mais perto do lado das coisas pequenas da escala de tamanho, quando comparados ao universo. E se você olhar a Terra nessa linha em vez de você, ela estará muito mais perto do meio.

Isso significa que depois de cerca de quatro séculos de ciência nos humilhando, dizendo-nos o quão vasta a existência realmente é – e, assim, nos assombrando com a ideia de que os eventos da Terra são tão pequenos que não podem ser significativos – nós agora medimos o suficiente na outra direção – em direção ao que é pequeno – para contar mais uma vez uma outra história.

Acontece que se o tamanho for a medida, então o mundo em que vivemos está praticamente no centro das coisas, afinal. Tudo depende de como você mede.

E assim, como agora também entendemos, se o tempo for a nossa medida, quando consideramos a existência instável dessas coisas subatômicas, a duração de nossas vidas estará, na verdade, no lado das coisas mais demoradas da escala – surpreendentemente mais perto dos quase 14 bilhões de anos do universo do que da extensão de tempo da coisa mais fugaz que ainda pode ser chamada de coisa.

Vai entender. Nós podemos ser importantes, afinal.

Mas não precisávamos da ciência para nos mostrar isso. Nós tínhamos o Natal o tempo todo.

Tínhamos esta noite singular, ano após ano, em que nos reuníamos por um tempo para cantar canções, para orar na esperança de nos sentirmos conectados, para ouvir a história de um pequeno lugar que se torna grande, de um momento fugaz que acaba sendo eterno, de um evento que parece insignificante em um mundo de grandes planos, grandes ideias e grandes lutas, mas que se torna o começo da história mais poderosa, significativa e transformadora de todas.

As aparências podem enganar, é o que parece. O que é pequeno pode ser grande. E o que finge ser grande pode ser humilhado pelo que é pequeno.

Esta pequena história, o Natal, pode ser a medida de todas as coisas – o espaço, o tempo e o próprio significado de tudo. Isso é o que os cristãos afirmam.

Pense nisso em termos de espaço.

Belém, uma pequena cidade na distante província de um império estrangeiro sob ocupação militar e política; por uma rua onde outros caminhavam e se escondiam das autoridades. Lá, naquele pequeno lugar, onde homens de todo o império foram ordenados a vir e serem contados, veio este pequenino que parecia pequeno demais para ser digno de qualquer nota – e, no entanto, cujos seguidores foram contados em número maior do que se pode imaginar.

Ele estava lá, em uma pequena manjedoura feita para animais muito antes de ser preparada para um bebê. E lá, nas áreas obscuras da periferia da cidade, onde pastores cansados e ignorados ouviram uma palavra de Deus e seguiram suas intuições até aquela manjedoura, e em uma terra distante onde um pequeno grupo de adivinhos estrangeiros decidiu vir e ver.

Lá estava.

Nós cantamos sobre o gado mugindo, sobre anjos cantando e sobre uma mãe contemplando e amando. E agora chamamos esse nascimento de milagre. Nós o chamamos de a própria encarnação de Deus. No entanto, naquele lugar, alguém poderia facilmente duvidar de seu significado além de Maria e José. Pois que deus viria assim? Só o Deus que é pequeno o suficiente para tocar o quark, mas grande o suficiente para segurar o quasar. E somente o Deus que não pretende ter uma glória grande demais para um humilde planeta e, ainda assim, grande o suficiente para ver, conhecer e chorar o choro do novo nascimento e receber o calor inesperado de um lugar estranho mas acolhedor — com átomos ainda girando e o universo ainda se expandindo.

Veja como o teólogo peruano Gustavo Gutiérrez fala sobre isso (extraído de Watch for the Light: Readings for Advent and Christmas, 248–249):

“Separado de suas coordenadas históricas, o evento perde seu significado. Aos olhos dos cristãos, a encarnação é a incursão de Deus na história humana: uma encarnação na pequenez e no serviço em meio ao poder dominador exercido pelos poderosos deste mundo; uma invasão que cheira a estábulo. O Filho de Deus nasceu em um pequeno povo, uma nação de pouca importância em comparação com as grandes potências da época”.

Aquele pequeno lugar, podemos dizer, está no centro de tudo. E assim, também, aquele breve momento, aquele momento tão fugaz quanto qualquer momento.

Poucas coisas pareciam ter mudado na superfície – com Herodes ainda pensando que estava no comando, com as tropas romanas ainda ferindo os fracos, com a necessidade humana ainda esmagando o amor e a inocência perdida – mas, por baixo de tudo, algo genuinamente novo havia ocorrido (parafraseado de Philip Yancey, também em Watch for the Light, 257).

Este pequeno momento reinterpretaria tudo o que veio antes e tudo o que ainda estava por vir. Esse pequeno momento, desaparecendo no próximo, abriria uma extensão de outros momentos que levariam passo a passo à ressurreição. Na visão da fé, este instante do nascimento torna-se o cerne do próprio tempo. É um instante do tempo que toca o eterno.

É assim que Deus sempre vem, também a nós. Pois não importa o quanto tenhamos vivido e o quanto nos sintamos distraídos com coisas mais urgentes, quando Deus vem esse instante muda o tempo. Deus vem e reescreve nossa história, tanto o que aconteceu antes quanto o que ainda está por vir – abalando o que pensávamos e reordenando o que confiamos.

Mesmo para aqueles crentes mais firmes, que repetidamente receberam Deus em suas vidas; mesmo para você, o mero indício da presença de Deus, a qualquer momento, recentraliza sua vida. É o centro de tudo.

Pois embora o mundo pareça inclinado para o previsível, o poderoso e o inevitável, você não pode ler a história do Natal sem ter a impressão de que Deus tem algo mais em mente.

Não importa quanto tempo você espere por Deus, o instante em que você é tocado por este Espírito é o momento certo. É o momento em que você sente que as coisas se mantêm unidas, não por seu próprio poder, mas por um Espírito além de você.

Pois esta história mede o espaço de novas maneiras.

E esta história mede o tempo de novas maneiras.

E esta história mede o que importa de novas maneiras.

Pois, veja só, esta história não é apenas sobre…, esta história é para.

Ela é dada a nós para trazer sentido e esperança àqueles que sofrem longe dos olhares e àqueles que precisam ser ouvidos. E é dada para despertar o coração daqueles que vivem em paz e querem servir. É um presente que pode ser traçado em cada presente que damos uns aos outros

… para a nossa cura,

… para a nossa liberdade,

… e para abrir a possibilidade de um novo futuro para cada um de nós, para todo o mundo e para toda a criação.

É uma pequena história no centro de todas as coisas – do quark ao quasar.

É uma pequena história no cerne do tempo – do fugaz ao eterno.

É a história, curiosamente, de Deus.

Que diferença isso pode fazer para você?

Amém.

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Link original: https://scienceforthechurch.org/2021/12/21/little-big/

Tradução: Tiago Pereira

 

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