Cada campo do conhecimento desenvolve um vocabulário próprio. Geralmente são usadas palavras que conhecemos, mas que ganham um sentido muito particular; a esses termos, chamamos de conceitos fundamentais.

No campo da interação entre ciência e religião não é diferente: há um vocabulário próprio, uma estrutura conceitual desenvolvida ao longo dos anos que nos permite navegar nas diferentes temáticas, compreender os principais autores, e, assim, sermos “co-participantes” do conhecimento.

Na semana 1 do BASICS  vamos estudar parte do que esse vocabulário é, o que ficou conhecido como os 4 MODELOS, fornecido pelo grande Ian Barbour. Para ele, a interação entre fé e ciência pode ser descrita por meio dos modelos de (i) conflito, (ii) independência, (iii) diálogo e (iv) integração.

Nesse vocabulário também encontramos algumas metáforas canônicas. Talvez a mais importante seja a dos DOIS LIVROS: a ideia de que Deus se revela através de dois meios fundamentais: do livro da Escritura e do livro na Natureza. Cada um desses livros tem seu objetivo, e também seu modo próprio de ser lido. Mas, para quem tem olhos para ver, ambos revelam e apontam para a majestade, sabedoria e amor do Criador de todas as coisas. Essa metáfora foi tão poderosa que inspirou pensadores tão diversos como Orígenes de Alexandria, Agostinho e Galileu Galilei.

Há, ainda, por trás de cada vocabulário uma história particular: os próprios termos “religião” e “ciência” tem uma história, significando coisas bem distintas em épocas e lugares diversos. Compreender os contornos nessa história nos permite uma maior compreensão dos dilemas presentes, assim como nos restringe de cairmos em simplificações erradas ou absolutismos perigosos.

E claro, há ainda muito, muito mais. O campo das interações entre ciência(s) e religião(s) é um verdadeiro universo a ser explorado: personagens incríveis, histórias “cabulosas”, desafios conceituais, paradigmas em mudança, embates entre certas teorias científicas e doutrinas religiosas, publicações variadas … e muito mais!

Não podia ser diferente: a curiosidade humana, como percebeu Andrew Briggs, é uma chama difícil de ser apagada.

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Como é rica e diversa a história das relações entre ciência e religião! O debate de Agostinho com os filósofos-cientistas de seu tempo; a famigerada querela entre Galileu e a cúpula romana; o crescimento da ciência ao longo da Idade Média; o papel do protestantismo da revolução científica; as transformações na teologia natural; o impacto de Darwin na teleologia… E isso é só uma pequeníssima amostra.

Mas precisamos ser enfáticos: tanto a ciência quanto a religião (no caso aqui, a cristã) tem uma certa história. Isso significa que elas passaram por várias transformações até culminaram naquilo que entendemos hoje, seja por “ciência” e seus correlatos “método científico” e “práticas científicas”, seja por “cristianismo”, “doutrina” e mesmo “teologia”. Sem história, ficamos cegos para compreender o presente e moldar o futuro.

Na semana 2 do curso Basics, voltaremos nossa atenção particularmente para história. Como compreendê-la? Até que ponto a religião cristã foi importante para a revolução científica? Será que a Idade Média foi uma “idade das trevas”? E como entender o caso Galileu? Será que representa uma instância onde a religião atrapalha e impede o avanço da verdade científica? Ou há mais elementos neste “causo”?

 

Marcelo Cabral

Gerente editorial e de ensino da ABC²

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