Por Ruth Bancewicz

© RM Bancewicz
Foto por: RM Bancewicz

[N.T.: O título é uma adaptação do título original, “Wood Wide Web”, um trocadilho com “World Wide Web”, de onde vem a sigla “WWW”, traduzida como a “rede mundial de computadores”.]

Nesta primavera, experimentei uma floresta nativa pela primeira vez. Não tenho certeza se ainda temos florestas intocadas no Reino Unido[1], mas em uma visita à Ilha de Vancouver eu vi a mais incrível floresta pluvial temperada, que fez as plantações de árvores mais modernas parecerem completamente estéreis. Devido ao clima relativamente ameno e úmido da Colúmbia Britânica, musgos e samambaias cobrem quase todas as superfícies disponíveis, e a vegetação mais rasteira é quase impenetrável.

A árvore dominante nessas florestas é o cedro-vermelho, e sua enorme altura significa que grande parte da luz é bloqueada e não alcança o chão da floresta, mesmo nos dias mais ensolarados. O solo é relativamente raso, de modo que novas árvores crescem sobre os restos apodrecidos das que caíram, resultando em um emaranhado espesso de troncos e galhos. A chuva também significa que qualquer solo nu pode rapidamente se tornar uma lama espessa, então ficamos felizes com as passarelas ao longo de muitas das trilhas.

Em Tofino e Ucluelet, e novamente em Mears Island, vimos um punhado de cedros que provavelmente são mais velhos que a Universidade de Cambridge. Estimados em 1.000 a 1.500 anos, eles são algumas das formas de vida mais antigas da terra. Essas árvores antigas são extremamente significativas para os povos indígenas da Ilha Vancouver, em um nível cultural, bem como em um nível prático por suas raízes, casca e madeira – que são geralmente colhidas sem corte.

Depois de ver estas grandes florestas, fiquei fascinada quando me deparei com o trabalho da Professora Suzanne Simard da Universidade da Colúmbia Britânica enquanto pesquisava minha publicação mais recente, A Inteligência das Plantas. Simard e sua equipe têm trabalhado para entender as redes subterrâneas de fungos brancos e amarelos que cruzam o chão da floresta, e eu queria investigar melhor o trabalho dela.[2]

Noventa por cento das plantas ligam-se aos fungos como parte normal do seu crescimento. Essas interações, chamadas de micorrizas, fornecem energia para o fungo e nutrientes e água extra para a planta. Os cogumelos são os corpos de frutificação destes fungos que surgem acima do solo, e um sinal de um ecossistema próspero. Cerca de dez por cento das plantas (principalmente árvores) formam a ectomicorriza, onde o fungo faz uma bainha ao redor e efetivamente cresce dentro da raiz.

Simard estuda as maneiras que os fungos podem ir um passo adiante, conseguindo de fato interligar as árvores. Há até algumas semelhanças entre essas espécies de florestas interconectadas e as nossas próprias redes sociais online.

Em comunidades humanas, indivíduos mais estabelecidos ou ativos podem atuar como núcleos para grande parte da atividade social, enquanto outros se conectam a eles e são atraídos para a conversa. Da mesma forma, nas redes florestais que Simard estuda, há evidências de que árvores maiores como os cedros milenares que vi no Canadá (às vezes conhecidos como “árvores-mãe”) atuam como centros de compartilhamento de recursos que são vitais para a saúde de toda a floresta.

Em tempos de seca, essas árvores mais maduras podem usar a rede fúngica para compartilhar nutrientes vitais com as menores e mais frágeis. Elas também podem apoiar o crescimento de mudas até que elas estejam altas o suficiente para chegar acima do sombreado chão da floresta e produzir seus próprios nutrientes de forma mais eficaz. Estar muito perto da árvore mãe é prejudicial, porque ela precisa de muita água e nutrientes para sobreviver, mas se as mudas crescerem a poucos metros de distância, elas podem se conectar à rede fúngica estabelecida e prosperar. Árvores centrais parecem enviar ajuda preferencialmente para outras da mesma espécie, mas espécies diferentes também podem compartilhar recursos. Em certas épocas do ano, o equilíbrio da partilha de nutrientes pode mudar a favor das árvores mais vulneráveis. Essa rede pode contribuir para a resiliência da comunidade florestal e para benefício da diversidade.

Eu aprendi sobre a micorriza há muito tempo, mas acho essa nova informação sobre a complexidade das relações entre plantas e fungos fascinante. Parece quase bom demais para ser verdade, mas os dados provêm de vários estudos realizados por diferentes grupos de pesquisa e sobre diferentes tipos de árvores. O tempo dirá, mas esse campo pode ser muito significativo.

A competição já foi considerada o principal fator no desenvolvimento das comunidades vegetais, mas essa nova pesquisa altera essa imagem. Em uma entrevista online, Simard disse: “Essas árvores não são indivíduos no sentido em que Darwin pensava que eram indivíduos, competindo pela sobrevivência dos mais aptos. Na verdade, elas estão interagindo umas com as outras tentando se ajudar mutuamente a sobreviver”. Então, voltamos a reavaliar o papel da cooperação na biologia, que está rapidamente se tornando um tema importante neste blog.

No nível mais básico, há valor comercial nesse conhecimento. Quando os organismos não podem se mover, eles encontram algumas maneiras engenhosas de sobreviver – e nós os ignoramos às nossas custas. Se essa pesquisa estiver correta, então o corte raso de florestas inteiras não faz sentido. Se as árvores centrais permanecerem de pé, com o solo o mais intacto possível, as mudas recém-plantadas devem prosperar muito mais do que o esperado usando métodos tradicionais.

Essas redes altamente cooperativas e comunicativas de seres vivos também são uma lição em si mesmas. Certamente há um valor intrínseco apenas em saber que tais coisas existem? É também um argumento para deixar o máximo de florestas nativas o mais intactas possível, dada a enorme quantidade de tempo que levaria para que esses sistemas complexos se regenerassem. Se toda a criação louva a Deus, esta é outra forma de podermos permitir que ela continue a fazê-lo. Espero ansiosamente ver o rumo que esse campo irá tomar no futuro e a forma como o conhecimento será aplicado.

[1] Exceto talvez partes da Floresta de Dean

[2] Muito obrigada à Cara Daneel pela pesquisa por trás desse artigo.

Texto Original: https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/the-wood-wide-web/

 

 

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