Hubble Ultra Deep Field, NASA, ESA e S. Beckwith (STScI) e Equipe HUDF

Gosto de brincar que  reformei o sótão em nossa casa para que eu pudesse ter uma visão ininterrupta do pôr do sol sobre os telhados da cidade a partir das grandes janelas que instalamos. Caríssimos  pores do sol! Na verdade, as janelas do telhado me permitiram desfrutar dos deleites celestiais mais à noite do que ao pôr do sol (quando normalmente estou colocando as crianças para dormir). Depois de amamentar minha filha de madrugada, olho as estrelas por alguns momentos antes de voltar para a cama. Por mais mal-humorada que eu esteja ao me levantar, esses poucos momentos de admiração das estrelas me dão a certeza de que há um quadro muito maior do que esta noite interrompida. As estrelas falam de um plano e propósito muito maiores com sua singela majestade.

Os céus declaram a glória de Deus.

O firmamento proclama a obra das suas mãos.

Um dia fala disso a outro dia.

Uma noite o revela a outra noite.

Salmo 19:1-2 

As estrelas são testemunhas da imensidão da ordem criada, e o Deus que as fez é grandioso o bastante para saber e se importar com minha frustração e tristeza. Volto para a cama com uma calma renovada, de que haverá um momento em que tudo fará sentido, e que há alguém cuidando de nossa pequena família.

Mas às vezes outras preocupações tentam abafar a mensagem das estrelas. E se Deus não for grande o bastante para ouvir minhas orações por paciência ou conforto em meio a todo o sofrimento “real” que está acontecendo no mundo? Ele vê cada pessoa sofrendo ou morrendo sozinha? No episódio de Doctor Who de 2018, “Os demônios de Punjab”, uma espécie alienígena se dedica a testemunhar e presenciar cada morte que morre sozinha. Deus faz isso? Ele pode realmente estar sustentando todas as estrelas, e ouvir minhas orações, e as delas também? Quão grande é um grande Deus?! Às vezes é simplesmente “tudo bem o Universo ser tão grande? Deus sabe disso, certo?” Ele provavelmente ri quando eu me preocupo com isso! Mas eu me questiono se essa última pergunta é mais comum do que gostamos de admitir. E eu me questiono se essa resposta realmente se tornará a resposta para as perguntas anteriores. Me permita explicar…

Gênesis 1 nos diz que Deus fez o Universo, o que deve significar que Deus é maior que o Universo. O Universo é um lugar Grande. A equipe espacial Hubble decidiu apontar o Telescópio Espacial Hubble para uma pequena região de céu escuro, onde eles pensaram que não havia absolutamente nada. Mas quando eles olharam demoradamente para a total escuridão, eles descobriram que ela estava cheia de pontos brilhantes, que quando olhados de perto, não eram estrelas, mas galáxias. Eles descobriram que onde quer que você aponte seu telescópio, existem galáxias. Os astrônomos estimam que existem 100 bilhões de galáxias, cada uma contendo 100 bilhões de estrelas. 100 bilhões é um número muito grande. De fato, cálculos recentes sugerem que pode haver 2 trilhões de galáxias no Universo.

Por que há tantas? Deus não poderia ter se contentado com apenas um sol e nosso sistema solar, ou a Via Láctea apenas para se exibir e nos dar um lindo céu noturno?

Gênesis 1 descreve um Deus incrivelmente criativo que se deleita em abundância:

Então Deus disse: “Encham-se as águas de seres vivos. E sobre a terra voem aves sob o firmamento do céu… Que a terra se encha de animais. E que cada um produza mais de sua própria espécie. Que haja animais domesticados e pequenos animais rastejantes e animais selvagens” Gen 1: 20,24, ênfase adicionada

Deus poderia ter se limitado a um pequeno número de animais para fazer companhia aos humanos, mas em vez disso vemos uma enorme diversidade ao nosso redor na Terra, com 8,7 milhões de espécies! Um Deus que se deleitou com uma enorme variedade no espaço e na Terra é consistente com a imagem que Gênesis pinta.

Mas não é só isso: se você voltar o relógio para o passado, a história que o Universo conta é que o Universo na verdade precisa ser grande para estarmos aqui. Nos últimos 100 anos, houve uma revolução na maneira como os cosmólogos entendem o Universo. Seguindo algumas teorias controversas que desafiaram a crença do status quo em um Universo eterno e estático, cosmólogos e astrônomos começaram a fazer medições das estrelas e perguntar o que elas nos contam sobre o Universo. Em parte devido às limitações da tecnologia, o modelo do Big Bang de um Universo em expansão foi ridicularizado por décadas e só foi amplamente aceito nos círculos científicos tradicionais a partir de 1992. Não sou cosmóloga, mas como química aprecio o rigor com que a comunidade científica submeteu essa nova teoria antes de ser aceita. Ela é hoje assumida como correta porque conta com um peso enorme de evidências que se encaixam neste modelo e não se encaixam em nenhum dos modelos concorrentes, masessa vitória foi difícil. 

De acordo com o modelo do Big Bang, no início, quando a matéria foi criada, não havia átomos – apenas seus componentes em uma sopa muito densa. À medida que o Universo se expandia, os átomos foram capazes de se formar (após 380.000 anos!). Mas apenas os dois menores elementos poderiam se formar – hidrogênio e hélio. Não se pode fazer algo muito humano a partir de hidrogênio e hélio! Existem pelo menos 17 elementos essenciais na dieta humana, sendo o iodo o mais pesado. Além disso, se quisermos ter um planeta Terra para viver, precisamos de muito ferro e níquel para formar o núcleo da terra. Então, como o hidrogênio e o hélio vão se transformar em elementos mais pesados, e o suficiente para fazer um planeta de ferro cheio de vida feita de carbono?

A resposta é explodindo estrelas. Inicialmente, o universo teve que se expandir o suficiente para que elementos se aglomerassem para fazer Estrelas (200 milhões de anos). As primeiras estrelas eram enormes e viviam apenas (!) 10 milhões de anos. Quando explodiram, parte do H e He saíram delas fundidos para formar elementos mais pesados, incluindo carbono, ferro e níquel. Mas muitas outras gerações de estrelas teriam sido necessárias para gradualmente produzir ferro suficiente para formar nuvens de poeira em torno de estrelas que poderiam se aglomerar para formar planetas. Tudo isso leva tempo, e estima-se que nosso sistema solar não foi formado até 9 bilhões de anos após o Big Bang. Enquanto isso, o universo está se expandindo e outras estrelas e galáxias estão se formando em todo o universo, enquanto os elementos mais pesados necessários para a vida, como o iodo, estão sendo feitos por tipos específicos de explosões de alta energia.

Então, vamos voltar às nossas perguntas. Está tudo bem que o universo seja um lugar grande? Resposta: mais do que tudo bem, na verdade, ele precisou ser tão grande para que nós, humanos, pudéssemos estar aqui. Deus quis que estivéssemos aqui. Ele está fazendo o Universo, e está fazendo ele grande. Ele chama cada estrela pelo nome. Ele conhece cada estrela (Isaías 40:25-26). Cada 100 bilhões vezes 100 bilhões. Nosso Deus Trino, em perfeita comunidade, se deleitou em criar nosso maravilhoso universo, e aposto que a trindade tem se divertido muito todo esse tempo! Isso pode significar que não somos o centro do Universo, e talvez essa humildade seja boa para nós. Mas isso não significa que Deus não nos conhece ou não se importa – nós somos parte de seu propósito na criação. Se Ele conhece 100 bilhões vezes 100 bilhões de nomes de estrelas, então Ele conhece os 7 bilhões de nomes de humanos. Ele sabia os nomes de todos os humanos que já viveram e sabe o dia em que morreram. Na verdade, se estimarmos que temos um pensamento a cada dois segundos (30.000 por dia), então houve menos pensamentos já pensados, e orações já realizadas, do que o número de estrelas no Universo.

Se Deus conhece cada estrela pelo nome, então Deus conhece todos os pensamentos que qualquer humano que já viveu tenha tido. Isso inclui todas as suas orações, e cada “me ajude” dito em desespero. Na verdade, é estimado que há mais estrelas do que animais e insetos na Terra. Como Jesus disse em Mateus 6:25-26 “por isso vos digo: Não vos preocupeis com a vossa vida, com o que comereis ou bebereis; ou com o vosso corpo, com o que vestireis. Não é a vida mais do que comida, e o corpo mais do que roupas? Olhe para as aves no ar; elas não semeiam, não colhem nem armazenam em celeiros, e ainda assim Seu Pai Celestial as alimenta. Vocês não são muito mais valiosos do que elas?” Se Deus conhece todas as estrelas do Universo, Ele pode conhecer todas as aves da Terra, e Ele as veste. Se Ele é grande o suficiente para elas, Ele é grande o suficiente para ouvir nossas orações e saber sobre nós. Sim, Ele vê aquele que sofre sozinho. E a Bíblia revela um Deus que não é indiferente, mas vem até nós: um Deus expansivo mas com uma profunda atenção aos detalhes.

 

Emily Dry tem um Ph.D. em Química Supramolecular, uma área de química que se concentra em utilizar as ferramentas da biologia em laboratório para criar estruturas e sistemas químicos de automontagem. Ela tem ensinado alunos talentosos em escolas em Londres e East Anglia através do Brilliant Club desde 2014, usando um curso baseado em sua pesquisa de doutorado. Em 2018, ela projetou um novo curso de estágio para o Brilliant Club intitulado “Por que estamos aqui? Respostas da física e da fé”, que é uma introdução à aproximação da ciência e da fé. O desenvolvimento do modelo do Big Bang ao longo do século passado fornece um excelente exemplo de um processo científico e uma inspiração para o desenvolvimento de uma visão de mundo robusta que seja ao mesmo tempo baseada em exploração rigorosa e aberta a novas informações. O curso está disponível para escolas de todo o país por meio do aclamado The Scholars Programme do Brilliant Club.

 

Texto de Origem: The Story the Universe Tells https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/guest-post-the-story-the-universe-tells/ 

 

Compartilhe a ABC²