Sabedoria: bíblica, científica e em outros lugares

Por Dr. Dru Johnson em 23 de julho de 2019
https://hebraicthought.org/wisdom-in-the-bible-scientific-knowledge/
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O que a ciência tem em comum com a sabedoria bíblica?

Quase tudo!

Os pesquisadores exploram o mundo por meio do uso qualificado de ferramentas científicas, mas também através da visão perspicaz que desenvolvem por meio do treinamento que recebem. E as Escrituras louvam o conhecimento prudente que observa de perto a realidade que nos rodeia. Provérbios retrata a sabedoria como um processo de submissão a Deus e às autoridades (como pais, mães e Dona Sabedoria) e, então, a consequente prática de suas instruções para ser sábio.

A maior parte dos oito termos hebraicos traduzidos como “sábio” pode ser melhor compreendida pela frase em inglês “skilled discernment” [“discernimento habilidoso”]. O erudito em estudos bíblicos Michael V. Fox resume “sabedoria” da seguinte forma: “[Sabedoria] descreve pessoas que, em algum sentido e em alguma esfera, são ‘competentes’, ‘habilidosos’. Esse termo pode ser usado até mesmo para trabalhadores braçais ou marinheiros… Mesmo um embrião que não consegue encontrar a saída do útero pode ser descrito como ‘insensato’” (Oséias 13:13).

A sabedoria bíblica não é apenas conhecimento aplicado a uma circunstância – é uma habilidade de ver além da superfície tênue da aparência das coisas. A pessoa sábia tenta compreender qual é a força motriz por trás da aparência das coisas.

Para pais de recém-nascidos, sabedoria é a capacidade de discernir entre, por um lado, a agitação e a febre de seu filho, e, por outro, o vírus que as causa. Para os professores, o discernimento astuto vê, além das palavras na redação, a mente crítica interior da criança.

Mas como nos tornamos sábios?

Sabedoria na Bíblia como Aprendizagem

De acordo com as Escrituras e os cânones da ciência, devemos nos tornar aprendizes sob a supervisão de uma boa autoridade. Desse modo, Provérbios se concentra no ouvir às autoridades corretas (como os pais) e no ignorar as erradas (como a mulher lasciva de Provérbios 7).

Mas a sabedoria não deve ser reduzida a uma visão religiosa do conhecimento. O químico – que se tornou filósofo – Michael Polanyi ofereceu uma visão do conhecimento científico que coincide bastante com o que encontramos nas Escrituras. A forma como os cientistas conhecem, enquanto descobridores de nosso mundo, imita e formaliza como toda descoberta acontece.

Além disso, a descoberta humana cotidiana é exatamente o que encontramos nos textos bíblicos. Tanto a Bíblia quanto os cientistas valorizam o conhecimento sábio – discernimento habilidoso – como o ápice do conhecimento humano.

Por exemplo, encontramos muitos relatos de descoberta comunitária nas Escrituras. Aqueles que têm a habilidade de discernir o que se passa além da aparência tentam ajudar o povo de Israel a ver de modo hábil. Assim como Moisés guiou Israel para discernir que YHWH é o seu Deus, também encontramos Jesus guiando seus discípulos para discernir o “segredo do reino de Deus”.

Ao longo das Escrituras, e particularmente na literatura sapiencial (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos), os sábios são aqueles que veem habilmente a realidade sob a orientação autoritativa de Deus que guia Israel por meio de Seus profetas: os experts. Pense no provérbio:

Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; considera os seus caminhos e sê sábio. 

Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante,

no estio prepara o seu pão

na sega, ajunta o seu mantimento. (Prov. 6: 6-8)

Nosso sábio guia em Provérbios tenta nos fazer “olhar novamente” para a realidade de uma formiga para ver o que não podia ser visto: o valor da preparação. Jesus faz o mesmo com corvos e lírios. O habilidoso discerne a provisão de Deus por trás dos meros pássaros e flores para os quais está olhando (Lucas 12: 24-31).

 

Investigação Científica como Sabedoria

Em meu livro Biblical Knowing [O conhecimento bíblico], descrevo maneiras específicas pelas quais o saber científico se baseia em muitos fatores encontrados nas Escrituras: confiança entre cientistas, testemunho, comunidade, mentoria (relação mestre–aprendiz) e as práticas incorporadas dos cientistas. Enquanto muitos cientistas podem ainda estar presos a modelos antigos de ciência que, ingenuamente, retratam os cientistas como pessoas que coletam dados objetivamente a fim de confirmar hipóteses, Polanyi demonstrou que uma boa investigação científica requer comunidade.

Além disso, os cientistas não são indivíduos clínicos impassíveis. Cientistas apaixonados conhecem cientificamente quando o fazem dentro de uma comunidade confiável de cientistas.

Na visão de Polanyi sobre o conhecimento científico, a habilidade de conhecer requer aprendizagem sob um cientista sênior. Polanyi sugere que aprimorar as habilidades necessárias para praticar uma boa investigação científica requer um tempo em que o cientista novato se submeta à autoridade do cientista sênior.

Este cientista sênior – o especialista sábio – deve guiar o aprendiz para que ele veja além da superfície das células, das substâncias químicas, das nebulosas e dos demais objetos de investigação. O especialista orienta o novato a peneirar observações complexas, perceber o que é significativo, reconhecer padrões e assim por diante. Aguçar essa competência desenvolve o discernimento: ser capaz de ver o que não se podia ver anteriormente graças a esse treinamento. Somente depois de se submeter a esse treinamento o aprendiz pode se tornar sábio.

É importante ressaltar que, enquanto somos treinados em sabedoria – desenvolvendo a habilidade de discernimento – também devemos confiar na instrução do nosso professor de biologia. Sem ele, não seremos capazes de dizer o que é significativo em nossas observações e o que é apenas ruído de fundo.

 

O Treinamento da Sabedoria de Israel

Foi assim com Israel. Enquanto os israelitas estavam escravizados no Egito, eles deviam confiar nas instruções autoritativas de Moisés para conhecer YHWH e as promessas abraâmicas. Os hebreus tinham que confiar de fato em Deus, mas Deus também se encarregou da tarefa de dar-lhes boas razões para confiar em Nele e em Moisés. Surpreendentemente, até mesmo a motivação para a libertação de Israel do Egito, a qual Deus afirmava repetidamente, era para que Israel, com habilidade, visse todas as pragas como razões para conhecer a YHWH como seu Deus (por exemplo, “todos vocês saberão que eu sou YHWH seu Deus” – veja Êxodo 6:7; 7:17; 10:2).

No entanto, observe que espalhar sangue nos umbrais de uma porta, sair do Egito ou mesmo caminhar pelo mar aberto não são coisas que, de maneira óbvia, estejam diretamente relacionadas a conhecer a Deus. Somente seguindo as instruções de Moisés – como às instruções de laboratório do professor de biologia – e considerando todas essas maravilhas como vindas de YHWH, Israel poderia “saber que eu sou YHWH seu Deus”.

Se Israel quisesse discernir sabiamente YHWH como seu Deus, então Israel tinha que prestar atenção às instruções de Moisés. E, segundo Polanyi, o mesmo se aplica aos cientistas.

Isso não deve ser reduzido a um apelo pela confiança cega de Israel, ou o uso pejorativo de “fé” como é comumente entendida no Ocidente. Antes, tanto no treinamento do cientista quanto no êxodo de Israel, existem razões seguras apresentadas para que se confie na orientação de uma autoridade.

As Escrituras Cristãs se concentram intensamente no aprendizado sob autoridades corretas – aquelas que discernem habilmente as estruturas e padrões de Deus neste mundo além das meras aparências. Sabedoria, então – tanto para o cientista como para os cristãos em comunidade – exige que identifiquemos tais autoridades e nos submetamos ao seu ensino do discernimento.

Este ensaio foi postado pela primeira vez em qideas.org.

Os créditos pelas imagens usadas no conteúdo do CHT podem ser encontrados em: hebraicthought.org/credits

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