Por Ruth Bancewicz

Nosso agradecimento a Susann Mielke, a fotógrafa cooperativa que disponibilizou esta imagem gratuitamente na Pixabay

O simples ato de comprar um café e um croissant em uma cafeteria repousa sobre uma enorme cadeia de cooperação que remonta a milhares de anos. Houve o cultivo e a transformação de matérias-primas, o abastecimento e fornecimento delas, a fabricação de produtos, a criação de uma empresa, a formação de pessoal, etc. Talvez os elos mais importantes desta cadeia foram as pessoas que compartilharam seu conhecimento sobre todos esses processos em todo o mundo, e ao longo de muitas gerações.

Os seres humanos são extraordinariamente cooperativos, mas outros organismos vivos também jogam o mesmo jogo. Em Supercooperators: Evolution, Altruism and Human behaviour, or Why we need each other to succeed (Supercooperadores: Evolução, Altruísmo e Comportamento Humano, ou Por que precisamos uns dos outros para ter sucesso), o biólogo e matemático Martin Nowak, e seu cooperativo coautor, o jornalista científico Roger Highfield, explicam como este processo funciona.

A cooperação acontece quando concorrentes em potencial decidem trabalhar juntos. As bactérias “caçam” em grupos. As formigas formam sociedades, assim como as abelhas, os ratos-toupeira e os suricatos. Nowak descobriu que a cooperação foi importante no surgimento da vida, na evolução da linguagem e nas formas como os órgãos trabalham juntos em um corpo. Para ele, a cooperação, não a competição, é a característica definidora do ser humano, e a evolução é a soma da mutação com a seleção a cooperação.

Nowak utiliza técnicas matemáticas para analisar as comunidades teóricas e as condições que ajudam a cooperação a acontecer e prosperar. Ele mostrou que a cooperação é compatível com a sobrevivência em meios competitivos, e seu trabalho tem sido apoiado por estudos experimentais sobre uma série de espécies diferentes, desde insetos até seres humanos. Para ele, “a forma como nós, seres humanos, colaboramos é tão claramente descrita pela matemática como a maçã que uma vez caiu no jardim de Newton.”

Por exemplo, é totalmente possível que nossos grandes cérebros tenham evoluído para lidar com as fofocas, e que nossos intestinos contenham glândulas para lidar com a quebra da cooperação celular – também conhecida como câncer. Somos mais generosos se nos sentimos vigiados, ter menos amigos vincula o nosso destino estreitamente ao deles, e se cooperarmos, é provável que nós fiquemos cercados por outros cooperadores. Pode ser menos arriscado ser egoísta, mas o resultado é melhor se cooperarmos – mesmo a algum custo pessoal.

De acordo com Nowak, a evolução não faria nenhum progresso sem cooperação, porque “a cooperação é o arquiteto da complexidade viva.” A Seleção Natural por si só acabaria com a população de cooperadores, mas a cooperação – “o aconchego para a existência” – ajuda no processo de evolução aumentando a aptidão da população. Ele afirma que a cooperação é a base da inovação e que a criatividade é mais bem estimulada com uma cenoura, não com uma vara. O custo da punição geralmente é tão alto que é melhor recompensar os cooperadores. Esta dinâmica resulta em formas mais criativas de cooperação, por isso, “é a recompensa, e não a necessidade a verdadeira mãe da invenção.”

Há cinco maneiras principais em que os seres vivos podem cooperar. Primeiro, existe uma cooperação “na mesma moeda” entre criaturas que entram em contato direto umas com as outras, como os morcegos-vampiros que compartilham refeições de sangue – especialmente entre aqueles que limpam uns aos outros. Em segundo lugar, e mais indiretamente, há cooperação que depende de reputação. Se eu te vejo ajudando outros indivíduos ou ouço que fez isso, é mais provável que eu te ajude. A terceira maneira de cooperar tem a ver com a orientação no espaço. Onde há muitas conexões entre organismos, eles podem prosperar juntos. Em quarto lugar, a cooperação entre grupos acontece quando pequenos grupos trabalham em conjunto e, finalmente, grupos de organismos relacionados também podem trabalhar juntos.

Os humanos são os cooperadores por excelência do mundo animal, e é por isso que temos sido tão bem-sucedidos enquanto espécie. Podemos fazer um bom uso dos cinco métodos de cooperação – especialmente o do tipo reputacional – mas não podemos de modo algum  nos acomodarmos. Ao longo do tempo, a capacidade dos indivíduos de cooperar é inconstante, e isso afeta a sociedade. Há sempre uma tensão entre o que é bom para a sociedade e o que é bom para o indivíduo, o que pode causar conflitos. De acordo com os autores, “a cooperação humana global agora oscila em um limiar.” A cooperação pode ter aumentado o tamanho da população humana, mas isso causou brigas ainda maiores por recursos. Portanto, em nossa sociedade recém-expandida, precisamos encontrar novas maneiras de trabalharmos juntos em uma escala global.

A esperança de Nowak é que possamos projetar nosso entorno – nossa arquitetura, ou leis e até mesmo nossa internet – de modo a nos ajudar a trabalharmos juntos de maneira mais duradoura. Podemos também recordar que estamos cooperando com as gerações futuras em todo o mundo, e não apenas com os nossos netos, pois “as civilizações que resolveram o problema da cooperação irão perdurar no Cosmos.”

Para terminar, eu amo a nota na seção de agradecimentos deste livro, que diz: “É adorável e inebriante a ideia de que um alto grau de cooperação seja necessário para entendermos a cooperação.” Sejamos inspirados pelos graus de cooperação que foram necessários para chegarmos onde estamos, pois “agora, mais do que nunca, o mundo precisa de supercooperadores.”

Sobre a Autora:
Ruth Bancewicz é uma associada de pesquisa sênior do Faraday Institute for Science and Religion, onde ela trabalha na interação positiva entre ciência e fé. Depois de estudar genética na Universidade Aberdeen, ela completou um PhD na Universidade de Edimburgo. Ela passou dois anos como pesquisadora de pós-doutorado em tempo parcial no Wellcome Trust Centre for Cell Biology da Universidade de Edimburgo, enquanto também trabalhou como responsável pelo escritório de desenvolvimento da Christians in Science. Ruth chegou ao Faraday Institute em 2006, e atualmente é uma curadora da Christians in Science.

 

 

 

 

 


Texto de Origem: https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/supercooperators-why-we-need-each-other-to-succeed/

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