Uma das perguntas que faço neste momento é: Quais são as melhores metáforas que poderíamos usar para descrever o desenvolvimento dos seres vivos?

Estamos habituados a ouvir falar da “sobrevivência do mais apto”, do “fruto do acaso e da necessidade” e do “relojoeiro cego”. É claro que há concorrência e imprevisibilidade nos sistemas biológicos, mas será que estes termos são os mais representativos do que acontece em todos os ecossistemas? É hora de destacar algumas metáforas alternativas que captam toda a maravilha dos processos envolvidos no crescimento e desenvolvimento de organismos e suas comunidades.

Nos últimos anos, várias pessoas têm proposto algumas formas alternativas de ver o mundo vivo. Por exemplo, encontrei um rico conjunto de novas metáforas no trabalho do paleobiólogo de Cambridge Simon Conway Morris, que tem questionado se os processos evolutivos são restritos, repetíveis ou mesmo previsíveis. Ele usou termos como o mapa da vidaorganização biológicasoluções evolutivasnavegação no espaço biológico, e ajuste fino. Todas estas palavras sugerem uma visão da evolução mais matizada do que a do simples acaso cego.

“Navegação”, “ajuste fino” e “mapa” sugerem um processo inteligente com um propósito, assim como “solução” e “organização”. É claro que as metáforas podem ser superdimensionadas em suas interpretações, e esses termos não significam que cada molécula ou organismo está empenhado em alcançar seu próprio objetivo na vida. Em vez disso, este tipo de linguagem introduz a ideia de que o desenvolvimento da vida na Terra pode ser um processo mais organizado e criativo do que alguns poderiam pensar.

Há muitos outros pesquisadores que estão fazendo perguntas semelhantes. Martin Nowak da Universidade de Harvard tem trabalhado com a ideia de cooperação, que ele afirma ser “a arquiteta da criatividade através da evolução, de células a criaturas multicelulares, a formigueiros, a aldeias, a cidades. Sem cooperação não pode haver nem construção nem complexidade na evolução.”

O bioquímico Stephen Freeland se interessa pela singularidade do código genético. Ele e seus colegas de trabalho descobriram que o sistema de DNA, RNA e proteína que é compartilhado por todos os seres vivos não é apenas um “acidente congelado”, mas é muito mais flexível e resiliente do que a maioria das alternativas geradas artificialmente.

Histórias como estas são fascinantes do ponto de vista meramente científico, mas também levantam questões mais filosóficas. Os biólogos têm discutido se há progresso ou direção em processos evolutivos há décadas. Há também a questão se eles possuem ou não um propósito. Trata-se de temas extremamente controversos, que a comunidade científica irá, sem dúvida, debater por muitos anos. A minha opinião é que o que vemos em biologia é, no mínimo, compatível com a ideia de um universo com propósito.

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Estes temas e muitos outros são abordados no site Maravilhas do mundo vivo, um projeto do “The Faraday Institute”, com contribuições de autores convidados e algumas peças mais gerais sobre cientistas que estudam as maravilhas do mundo vivo. Espero que este conteúdo lhe inspire a desfrutar do mundo vivo de novas formas.

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Sobre a Autora:

Ruth Bancewicz é uma associada de pesquisa sênior do Faraday Institute for Science and Religion, onde ela trabalha na interação positiva entre ciência e fé. Depois de estudar genética na Universidade Aberdeen, ela completou um PhD na Universidade de Edimburgo. Ela passou dois anos como pesquisadora de pós-doutorado em tempo parcial no Wellcome Trust Centre for Cell Biology da Universidade de Edimburgo, enquanto também trabalhou como responsável pelo escritório de desenvolvimento da Christians in Science. Ruth chegou ao Faraday Institute em 2006, e atualmente é uma curadora da Christians in Science.

Link do texto original: https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/wonders-of-the-living-world/

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