Como pode um Universo que parece tão frio, escuro e estéril tornar-se um lugar onde a vida pode florescer? Esta é uma das perguntas que a astrônoma Dra. Jennifer Wiseman respondeu em seu seminário no Faraday Institute, no mês passado. Em sua palestra, parte da qual resumi aqui em minhas próprias palavras, ela explicou por que o Cosmos pode ser visto como um lugar muito frutífero – e porque essa ideia é compatível com seu próprio senso de propósito para o mundo.

Jennifer cresceu em uma fazenda no Arkansas, onde veio a conhecer as estrelas de uma forma que, aqueles de nós que vivemos a vida toda em cidades com poluição luminosa, jamais entenderíamos. Ela foi estudar física na universidade, descobriu um cometa como parte de um projeto de pesquisa de verão, e passou a fazer pesquisa em astronomia. Como alguém que estuda formação estelar, ela foi capaz de ver em primeira mão porque as condições foram tão perfeitas para a vida se desenvolver na Terra – e possivelmente em outros lugares também.
As ferramentas disponíveis para os astrônomos hoje estão a anos-luz das disponíveis para Galileu. Acima da atmosfera, telescópios espaciais como o Hubble transformaram a nossa compreensão do Universo. Outros tipos de telescópio recebem radiação além do espectro visível, permitindo-nos ver através das nuvens de gás e poeira que envolvem as estrelas recém-nascidas.

Os instrumentos nos telescópios e sondas espaciais de hoje podem dar informações em muito mais detalhes – capturando imagens em alta definição. Eles também podem detectar quais comprimentos de onda de luz estão sendo emitidos, então os astrônomos conseguem prever quais moléculas podem estar presentes em diferentes estrelas e planetas.

Após sua manutenção de 2009, o telescópio Hubble tem revelado os segredos do céu noturno em detalhes sem precedentes. Um estudo envolveu a captura de luz de uma área relativamente escura, usando uma exposição de vários dias, para ver se era possível detectar galáxias que não tínhamos visto antes. O resultado deste experimento de “campo ultra profundo” (ultra deep field) é impressionante.

A luz viaja a uma velocidade constante, de modo que quanto mais longe um objeto está no céu noturno, mais antiga é sua imagem quando chega aos seus olhos. Então, se você observar uma estrela a cinquenta anos-luz de distância, a luz que você recebe dela terá cinquenta anos de idade. É incrível pensar, mas o telescópio Hubble permitiu aos cientistas capturar imagens de galáxias a mais de 13 bilhões de anos-luz de distância. Assim, considerando que o Big bang tenha acontecido 13,8 bilhões de anos atrás (com uma margem de 0,021 bilhão para mais ou para menos), essas imagens de galáxias muito distantes nos mostram como eram quando recém-formadas.

 

Ao comparar imagens de galáxias a uma variedade de distâncias da Terra, os astrônomos podem então ver como elas mudaram ao longo do tempo. As estrelas nas galáxias mais antigas eram bastante simples, feitas em grande parte de hidrogênio muito comprimido. Dentro dos seus núcleos densos e quentes, os átomos de hidrogênio foram fundidos para produzir hélio, liberando uma enorme quantidade de luz. Quando grande parte do hidrogênio foi usada, as forças dentro dessas estrelas mudaram e elas explodiram.

A energia dessas estrelas moribundas fundiu átomos de hélio para produzir outros tipos de elementos, e outros elementos foram produzidos a partir desses elementos, e assim por diante. Todos estes diferentes tipos de átomos foram liberados para o espaço interestelar, e a geração seguinte de estrelas formou-se a partir desta nuvem de poeira e gás. As novas estrelas continham mais do que apenas hidrogênio e hélio, assim elas puderam produzir mais novos tipos de elementos químicos. Ao longo do tempo, a maioria dos elementos da tabela periódica foram produzidos desta forma.

Ao ampliar uma região como a Nebulosa de Órion, regiões escuras e empoeiradas são visíveis orbitando em torno das estrelas recémformadas. Estes discos de detritos são o berço dos planetas. Dados como estes mostraram aos astrônomos que as estrelas e seus planeta não nascem um após o outro, mas ao mesmo tempo, e os discos de poeira são um tema aquecido para pesquisa no momento.

Nossa própria galáxia foi formada por várias gerações de estrelas massivas, cada uma semeando elementos químicos mais pesados para a próxima geração. Muitos dos anéis que se formam em torno das novas estrelas – incluindo o nosso próprio sistema solar – contêm os elementos necessários para a vida.

Então, se o Universo amadureceu ao longo do tempo, fornecendo as condições para que a vida prosperasse e florescesse tão abundantemente em pelo menos um planeta – isso significa que há um propósito para o Universo? O Cosmos estava destinado, de alguma forma, a produzir vida?

Acabamos de dar um salto da ciência para uma questão filosófica, mas esse salto não é óbvio para todos. Muitas pessoas – cientistas inclusos – frequentemente misturam ciência e filosofia, deixando cada uma semear a outra com perguntas e ideias. A discussão de filosofia ou fé à luz da descoberta científica é útil, se estivermos cientes do que estamos fazendo, e os diferentes tipos de questões que cada busca persegue. Se quisermos fazer reivindicações científicas, precisamos estar cientes de quais questões a ciência é e não é capaz de responder
sozinha.

O físico Freeman Dyson disse certa vez, de forma um tanto enigmática: “não seria surpresa se chegássemos à conclusão de que a origem e o destino da energia no Universo não podem ser completamente compreendidas de forma isolada dos fenômenos da vida e da consciência… é concebível…que a vida pode ter um papel a desempenhar muito mais amplo do que imaginamos. A vida pode ter conseguido, contra todas as probabilidades, moldar o Universo para os seus propósitos. E o design do Universo inanimado pode não estar tão distante das potencialidades da vida e da inteligência como os cientistas do século XX tendiam a supor.” Para Jennifer, a fecundidade do Universo para a vida faz todo o sentido à luz da existência de Deus.

Sobre a autora

Ruth Bancewicz é uma associada de pesquisa sênior do Faraday Institute for Science and Religion, onde ela trabalha na interação positiva entre ciência e fé. Depois de estudar genética na Universidade Aberdeen, ela completou um PhD na Universidade de Edimburgo. Ela passou dois anos como pesquisadora de pós-doutorado em tempo parcial no Wellcome Trust Centre for Cell Biology da Universidade de Edimburgo, enquanto também trabalhou como responsável pelo escritório de desenvolvimento da Christians in Science. Ruth chegou ao Faraday Institute em 2006, e atualmente é uma curadora da Christians in Science

 

 

 

Texto Origem: https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/churchresources/posts/from-the-dust-how-the-universe-became-fruitful-forlife/

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