A maioria dos cientistas se empolga quando está falando sobre ciência de uma forma geral. Mas eles ficam animados mesmo quando estão falando sobre sua própria área de interesse. Passei os anos do meu doutorado estudando microtúbulos, que são filamentos microscópicos encontrados no interior de células-vivas, e até hoje eu fico com os olhos marejados quando penso sobre isso. Para algumas pessoas, os microtúbulos podem não ser bonitos – em algumas imagens eles parecem mesmo uma bola de pelos retorcida, ou uma tigela de espaguete – mas para mim, eles são verdadeiras maravilhas.

Os microtúbulos são os maiores dentre três tipos de filamentos que compõem o citoesqueleto. O citoesqueleto organiza a célula e lhe dá forma, assim como os ossos que compõem o nosso esqueleto dão estrutura aos nossos corpos. Porém, ao contrário dos ossos em nossos corpos, o citoesqueleto é incrivelmente dinâmico, e muda a sua conformação de acordo com as necessidades da célula. Os microtúbulos têm um papel essencial na divisão e na motilidade celular. Eles também funcionam como “autoestradas” intracelulares pelas quais motores moleculares transportam carga.

Cada microtúbulo é uma estrutura oca, formada por unidades repetitivas de uma proteína chamada tubulina. Os microtúbulos se estendem e diminuem de maneira estocástica (ou seja, aleatória), à medida que as subunidades de tubulina se acoplam, ou se desacoplam da estrutura existente. Essa “instabilidade dinâmica” é influenciada por diversas outras proteínas que se ligam aos microtúbulos.

A divisão celular é bela e elegante, e acontece com extraordinária precisão na maior parte do tempo. Cada um de nós inicia a vida como um único óvulo fertilizado, mas os adultos, em média, têm aproximadamente 37 trilhões de células!1 Diariamente, milhões, ou até mesmo trilhões de novas células são formadas para substituir células mortas, ou danificadas.

Quando a célula se prepara para dividir, os cromossomos (filamentos de DNA) se condensam, são duplicados, e se alinham em pares no centro da célula. Enquanto isso, os microtúbulos se rearranjam para formar duas redes em polos opostos da célula. Os microtúbulos, então, se alongam e encolhem até fazerem contato com uma região especial em cada cromossomo. Sinais físicos e químicos fazem com que os feixes de microtúbulos  “enrolem” os cromossomos duplicados em direção aos polos opostos da célula para que cada uma das células-filhas tenham a versão completa e idêntica do repertório de DNA.

Como estudante de pós-graduação, frequentemente eu sentia que era um privilégio poder estudar esses eventos intracelulares surpreendentes que nós havíamos conseguido filmar. Os biólogos aprenderam tanto sobre os mecanismos internos das células vivas, mas talvez mais do que o que nos foi ensinado é o tanto que ainda não sabemos. Muitos cientistas com os quais eu trabalhei durante esses anos de formação e muitos com os quais eu interajo hoje no meu trabalho na BioLogos – tanto cristãos quanto seculares – são surpreendentemente humildes nesse sentido. Constantemente eles vão tateando entre o limite do conhecido e do desconhecido e a busca de aprender mais é o que lhes tira da cama todas as manhãs.

Para muitos cristãos, a complexidade ‘de cair o queixo’ e a auto-organização que descobrimos no interior da célula parecem ser evidência clara de ‘Design Inteligente’. Eu creio de todo coração que Deus criou o universo e tudo o que nele há, mas não da forma que estes imaginam. A evidência não parece sugerir que Deus criou fazendo aparecer do nada novas estruturas intracelulares – que dirá trazendo à existência espécies inteiras. Ele poderia ter feito desse jeito, mas os dados científicos são consistentes com a ideia de que elas emergiram muito gradualmente através da história da vida (aproximadamente 3.5 bilhões de anos).

Vejo todas as formas de vida aparecendo sob a providência divina, de acordo com as leis naturais que ele estabeleceu e sustenta com suas mãos. Então, ao invés da imagem de Deus como um engenheiro, ou um designer de software, eu prefiro a imagem de Deus como um artista constante e sem pressa, tecendo um tapete de grande beleza em todas as criaturas, grandes e pequenas.

¹ Bianconi, E. et al., An estimation of the number of cells in the human body. Ann Hum Biol. 2013 Nov-Dec;40(6):463-71


A Dra. Kathryn Applegate recebeu o bacharelado em Biofísica e Matemática no Centenary College em Shreveport, Louisiana, onde ela foi coautora de um livro texto de Biofísica, até hoje utilizado no programa de Biofísica da faculdade. Kathryn recebeu seu PhD em Biologia Celular Computacional no The Scripps Research Institute (TSRI) em La Jolla, California, em 2010. Lá ela desenvolveu algoritmos de visão computacional para medir a atividade remodeladora do arcabouço celular interno, o citoesqueleto. Além disso, ela desenvolveu modelos matemáticos da dinâmica do citoesqueleto para investigar como a sua atividade a nível molecular contribui para processos de ordem superior como migração celular.

Kathryn agora é Diretora de Programa da BioLogos, onde ela lidera o programa de financiamento Evolução e a Fé Cristã. Ela gosta de escrever e dar palestras sobre tópicos de fé e ciência.

https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/wonders-of-the-cell/

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