Dr. Ruth Bancewicz


As passagens bíblicas sobre árvores e rios que batem palmas e montanhas que irrompem em canções são simplesmente metáforas sobre como a criação inspira as pessoas a louvar a Deus, ou será que a criação não-humana realmente adora a Deus de alguma forma inconsciente? Esta é a pergunta que Mark Harris, professor de Ciência e Religião na Universidade de Edimburgo, fez em seu seminário no Instituto Faraday no início deste ano.

O versículo 12 de Isaías 55 é um bom exemplo desses textos de louvor da natureza. “Vocês sairão em júbilo e serão conduzidos em paz; os montes e colinas irromperão em canto diante de vocês, e todas as árvores do campo baterão palmas.” O escritor do Salmo 19 foi mais cauteloso, dizendo que, embora “sem discurso”, os céus “declaram a glória de Deus”.

Muitas dessas passagens são cânticos ou convites para louvar a Deus. Elas também podem estar apontando para alguma grande obra que Deus fará no futuro ou um testemunho do que ele fez no passado. Nenhuma explicação dessas metáforas é dada na própria Bíblia, então aqueles que são de uma mentalidade mais analítica ficam se perguntando o que eles realmente significam.

Harris encontrou quatro maneiras principais em que o “louvor da natureza” pode ser interpretado. Primeiro, é como uma metáfora para o louvor humano, porque os textos usam ações humanas como bater palmas ou cantar.

Em segundo lugar, estes versículos podem refletir uma crença pré-científica de que o mundo é permeado por espíritos. Harris rapidamente descartou isso como uma interpretação irrealista da visão do mundo dos escritores bíblicos, mas destacou a visão mais matizada de que há alguma relação oculta entre a criação e Deus que é revelada quando Deus fala através de uma tempestade ou uma sarça ardente.

A próxima interpretação foi apresentada por Richard Bauckham: a de que a criação louva a Deus simplesmente sendo ela mesma. Essa visão parece ressoar melhor com a maioria dos cristãos comuns, mas o que significa? Também estamos incluídos na equação? Tudo o que fazemos conta como louvor, quer as nossas ações sejam éticas ou não?

Finalmente, há a ideia de que a natureza irá louvar a Deus no final. Há sofrimento no mundo, mas ele não durará para sempre. O louvor da criação humana e não-humana anseia por esse dia.

O próprio Harris não tem certeza sobre o que exatamente a criação está fazendo quando louva a Deus. Seu lado científico (ele tem um doutorado em ciências da terra) o leva a fazer perguntas que não podem ser respondidas apenas pela teologia. Ele está ciente da necessidade de pensar se o louvor é algo que a criação faz em Deus ou algo que Deus faz na criação.

Harris tem certeza, no entanto, que há uma relação entre criatura e criador. Precisamos reconhecer o gemido da criação, bem como o louvor, e evitar nos comportar como se tudo girasse em torno de nós mesmos. Deus claramente tem uma relação com o mundo natural que é independente dos humanos. O grande teólogo Karl Barth resumiu isso lindamente quando escreveu: “Quando o homem aceita novamente o seu destino em Jesus Cristo…Ele é apenas como um recém-chegado se arrastando envergonhado para o coro da criação nos céus e na Terra, que nunca cessou o seu louvor”.

Texto Original: https://www.faraday.cam.ac.uk/churches/church-resources/posts/the-trees-clap-their-hands-what-does-it-mean-to-say-that-creation-praises-the-creator/

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