“O hipócrita arruína o próximo com a boca,
mas os justos são libertados pelo conhecimento.”
(Provérbios 11.9)

 

Na última semana do Advento, tempo em que os cristãos se preparam para comemorar o nascimento do Senhor Jesus e em que até os não cristãos falam em fraternidade e paz, fomos surpreendidos por calúnias e ataques à ABC², que ultrapassam de longe o nível do aceitável.

Lamentamos a necessidade de trazer tais assuntos a público neste início de ano, mas tendo em vista o objetivo evidente de fazer de certos vídeos material para uma campanha difamatória contra a ABC², distorcendo sua forma de atuação, seus valores e sua missão, apresentamos aos nossos associados, amigos e cristãos em geral os seguintes esclarecimentos:

 

  É falsa a afirmação de que a ABC² é “evoteísta”:

– Conforme amplamente conhecido, a ABC² é uma comunidade intelectual cristã, que promove o diálogo honesto e respeitoso entre os campos da fé cristã e da ciência, “tendo em conta a liberdade e a soberania das respectivas esferas sociais”. Há organizações como Answer in Genesis, Reasons to Believe, Discovery Institute e BioLogos que defendem (legitimamente) agendas específicas quanto à questão das origens. Não é o caso da ABC². Nossa associação não sustenta nenhuma teoria específica sobre a interpretação de Gênesis 1-2 ou sobre a ciência das origens, sendo aberta a cristãos com as mais diversas interpretações. Nossa associação não é dogmática, mas plural.

– Frequentemente, escolhe-se a expressão “evoteísmo” para ser associada a alguns cristãos que aceitam a evolução biológica, omitindo a terminologia corrente (“criação evolucionária” ou “criação evolutiva”), como estratégia dissimulada e discriminatória de ocultar a realidade de que tais cristãos (como não poderia deixar de ser) creem na Criação, e reverenciam, cultuam, rendem glórias e exultam no Deus Criador e Sustentador de todas as coisas, fonte originária de todo ser e de toda existência. Para evitar essa discriminação, recomendamos o uso da expressão “criacionismo evolutivo”.

– Os membros da ABC² são livres para defender qualquer modelo de integração de ciência e teologia consistente com a fé Nicena e o Pacto de Lausanne, incluindo o criacionismo científico e o criacionismo evolutivo.

– Independentemente da diversidade de posições sobre a ciência das origens admitida pela ABC², a presença do tema “evolução” em nossos seminários e publicações deve-se ao fato de que este é o paradigma dominante nas ciências biológicas (assim como mecânica quântica ou teoria da relatividade o são em seus respectivos domínios na física) e certamente constitui um tema com repercussões importantes no campo da antropologia e da teologia cristãs, cujas implicações demandam detida análise. Contudo, assim como efeitos quânticos e relativísticos são fatos próprios da física, a evolução é hoje um princípio científico da biologia (ensinado em todas as escolas), não uma escolha da ABC².

– Repudiamos a tese fantasiosa de que essa teoria, a despeito de suas falhas, tenha se tornado obsoleta e descartada pela comunidade científica, o que constitui uma clara falsificação da realidade para enganar fiéis sem treinamento especializado. Por isso mesmo, repudiamos a tentativa de tornar o tema “evolução” um tabu entre os cristãos. Reconhecemos, no entanto, a necessidade de debater abertamente todas as falhas da moderna síntese evolutiva e o direito intelectual de buscar sua refutação.

– Ao contrário do espantalho que artificialmente se tenta criar, a ABC² não é uma organização monotemática. Trata-se de uma organização complexa, dinâmica, rica em conteúdo, que possui grupos temáticos transdisciplinares em Filosofia, Direito, Tecnologia, Medicina, Física, Química, Biologia, Computação e História, todos com pautas de estudo próprias em suas respectivas áreas; além disso, o campo específico de estudos de “religião e ciência” envolve diversas subáreas, como a história das relações entre cristianismo e ciência, filosofia da religião, filosofia da ciência, teologia natural, hermenêutica bíblica, ciência cognitiva da religião, religião e tecnologia, cristianismo e transumanismo, entre outras. É uma inverdade, portanto, que a ABC2 seja uma organização “evoteísta”.

– Merece destaque, ainda, o fato de que o ataque à ABC2 como se fora uma organização monotemática e dogmática reflete o fato de que diversos críticos da nossa iniciativa não concebem o campo de religião e ciência senão em termos monotemáticos e dogmáticos, habituados como estão a reduzir toda a discussão à interpretação de Gênesis 1 e 2; o que se pode constatar pelo escopo limitado de suas contribuições para esse campo.

 

É falsa a afirmação de que as organizações Templeton seriam dedicadas à promoção do “evoteísmo”:

– Para constatar este fato não é preciso ser estudioso do assunto. Basta clicar nos links a seguir e fazer uma simples inspeção nos websites da Templeton World Charity Foundation (TWCF: templetonworldcharity.org) e da John Templeton Foundation (JTF: www.templeton.org). São ambas organizações filantrópicas, que oferecem grants (suporte financeiro) para projetos que conseguem ser aprovados após um rigoroso processo de seleção internacional realizado por peritos dos principais centros acadêmicos do mundo. É facilmente constatável também que os projetos apoiados versam sobre uma ampla variedade de temas, que frequentemente não tem nenhuma relação com o debate sobre evolução biológica.

– A acusação é ainda injusta em relação às organizações Templeton, que prestam um valioso serviço filantrópico, financiando iniciativas de pesquisa e divulgação científica que em inúmeros casos já contribuíram para causas de interesse cristão, como a filosofia da religião cristã, evidências teístas, a naturalidade da crença em Deus, a ciência e a ética das virtudes, a psicologia do perdão e da gratidão, o estudo crítico do secularismo, a defesa da família e das liberdades fundamentais, entre outras.

 

É falsa a insinuação de que a ABC2 desfrutaria de relação privilegiada com as organizações Templeton ou que estaria a serviço delas:

– Não temos nenhuma relação privilegiada com as organizações Templeton. Para se ter um projeto aprovado, deve-se passar pelo processo de seleção referido acima e competir com renomadas instituições internacionais, do calibre das universidades Harvard ou Johns Hopkins (conforme pode ser comprovado pelos links acima). O processo seguido é o usualmente empregado nos meios acadêmicos (como os do CNPq, CAPES, FINEP, ou qualquer outra organização de fomento), portanto inteiramente familiar a quem passou por alguma universidade. Ou seja, não há nada de excepcional nisso, a não ser o fato de que o processo de seleção é extremamente rigoroso e competitivo. Portanto, qualquer pessoa ou organização que se julgue apta pode submeter projetos a essas entidades.

– Até agora, tivemos três projetos aprovados tendo a ABC² como beneficiária, nenhum deles voltado para a questão criação/evolução, conforme pode ser constatado. As informações sobre esses projetos são públicas e podem ser acessadas nos links abaixo:

    • ABC2: Proposal for Establishment and Full Implementation of the Brazilian Association of Christians in Science (acesse aqui)
    • Faith and Science in Brazil: Disseminating the Dialogue Approach (acesse aqui)
    • ABC2: Faith and Science for Personal and Societal Flourishing (acesse aqui)

– O fato de a iniciativa ABC2 ter recebido esses grants mediante concorrência internacional testifica da qualidade acadêmica e técnica desta iniciativa, o que muito ao contrário de contar negativamente, constitui certificado de referência positiva quanto à sua seriedade e competência.

 

É falsa a afirmação de que a ABC² conceda ou usufrua de bolsas de estudo:

–  Os grants são empregados na execução dos projetos aprovados através de um staff dedicado, altamente competente e bastante enxuto. No momento, os 70 grupos de estudo da ABC² espalhados de norte a sul pelo país, além dos 9 grupos temáticos referidos acima, atuam por iniciativa própria e com os recursos de que dispõem. Certamente, a ABC2 tem interesse em submeter projetos que permitam a concessão de bolsas de estudo, pois contamos com associados altamente capacitados, com plenas condições de desenvolver projetos de elevado valor acadêmico; mas infelizmente não dispomos de tais bolsas até o momento.

 

É falsa a afirmação de que a ABC² tenha conexão com a BioLogos:

– A ABC² não tem, nem nunca teve, qualquer ligação com a BioLogos. Não que isso pudesse significar qualquer tipo de demérito, visto que a BioLogos é uma organização competente e comprometida com a fé evangélica. Contudo, a sugestão de que a ABC² tenha algo a ver com a BioLogos é pura invenção, cuja intenção evidente é rotulá-la (a ABC²) de “evoteísta”. A afirmação de que a BioLogos concede bolsas à ABC2 é simplesmente falsa.

 

É falsa a afirmação de que a ABC² trata Gênesis 1 e 2 como mera alegoria:

– A ABC² não sustenta nenhuma interpretação oficial sobre Gênesis 1 e 2, de modo que tais declarações devem desde sempre ser consideradas absurdas. A despeito disso, é verdade que a ABC² acolhe o debate aberto sobre a interpretação de Gênesis e admite que seus membros defendam interpretações literárias e não-literalistas de Gênesis 1 e 2. Mesmo assim, essas interpretações são consideradas legítimas apenas se demonstram respeito à inerrância e à veracidade das Escrituras e à realidade histórica da narrativa bíblica, segundo estabelecido no Pacto de Lausanne, a declaração de fé adotada pela ABC².

 

É falsa a afirmação de que a ABC² usa a ciência para questionar a veracidade das Escrituras:

– Segundo a posição histórica da Igreja Cristã, de que a revelação de Deus se mostra em dois livros, sendo eles: o livro das Palavras de Deus (A Bíblia) e o livro da Obras de Deus (A Natureza), sustentamos que o organismo da revelação fala de modo harmônico e complementar, não havendo contradição entre a verdade bíblica e a verdade natural. Entendemos, por isso mesmo, que a tentativa, seja do campo “modernista” ou do campo “fundamentalista”, de colocar os dois livros em contradição, negando a forma própria e o escopo de cada um deles, ameaça a ortodoxia cristã.

– Segundo a analogia cristológica, afirmamos que a Bíblia é a palavra divina em linguagem e contextos culturais humanos. Reconhecemos que a Bíblia é verdadeira teologicamente, historicamente e factualmente, segundo sua intenção e formas literárias, e que essa veracidade se estende a tudo o que for necessário para veicular a revelação divina, incluindo todo o seu encadeamento narrativo. Assim, a Bíblia é “verdadeira em tudo o que afirma” (Lausanne) e a história bíblica é verdadeira “no tempo e no espaço” (Francis Schaeffer). No entanto, assim como o corpo do Verbo Encarnado era finito, a Bíblia é um livro finito desde sua intenção textual original, intenção essa que não inclui afirmações de forma e caráter teórico-científico moderno. A Bíblia não constitui uma fonte infinita de informações científicas aleatórias a serem derivadas de seus detalhes, colecionadas e juntadas por cientistas criativos. Toda a tese de que a Bíblia seria uma fonte de mistérios científicos ocultos não tem nenhum suporte na própria Bíblia, nem qualquer exemplo de sucesso na história do pensamento cristão ou da ciência, nem qualquer corroboração nos credos ecumênicos ou nas confissões históricas das grandes igrejas cristãs, nem goza de razoabilidade hermenêutica, e foi rejeitada pelos pais protestantes e puritanos da revolução científica na Inglaterra. Ademais, essa tese padece sob a tentação de tratar a ciência moderna como a régua superior da verdade, esperando que a veracidade da Bíblia seja confirmada pelos padrões eficientes, mas limitadíssimos da ciência moderna. Nesse sentido, coloca sobre a Bíblia uma exigência injusta e excessiva, fornecendo munição gratuita para os ataques dos céticos. Finalmente, destacamos ainda que essa “tese enciclopédica” sobre a Bíblia não reflete nenhum consenso na comunidade evangélica, nem goza de legitimidade para ser elevada ao nível de ortodoxia cristã e de condição para a comunhão cristã.

– Certamente, acreditamos que a Bíblia deve governar a imaginação científica cristã, corrigindo a nossa visão da Natureza de modo que ela seja, à luz da fé trinitária, compreendida como Criação divina. Assim, embora não seja fonte privilegiada de alegados fatos científicos, a Bíblia altera a cosmovisão e o olhar do observador sobre o significado da criaturidade diante do Criador. Concordamos, portanto, que o livro das criaturas deve ser lido com o auxílio do livro das Palavras de Deus.

– Negamos enfaticamente que a ciência tenha o poder de corrigir a Bíblia. Afirmamos, de modo igualmente enfático, que a ciência e o saber acadêmico podem corrigir a nossa leitura da Bíblia, quando ela é corrompida por vícios humanos como a incredulidade, a superstição, a ignorância, a preguiça intelectual ou o dogmatismo, sendo exemplos clássicos e imperecíveis desses vícios a rejeição do comentário bíblico literal pelos inimigos da Reforma e a rejeição do heliocentrismo pelos inimigos de Galileu Galilei.

– Sustentamos, ainda, que uma visão sadia da relação entre Escritura e Ciência não é incompatível com versões tradicionais de criacionismo que sejam céticas sobre a evolução, desde que elas sejam defendidas a partir de evidência externa à teologia e independente da exegese bíblica, ou de modelos teóricos científicos alternativos. Nossa negativa diz respeito unicamente à alegação de que gaps factuais e evidências científicas faltantes na modelagem científica possam ser supridos por fatos bíblicos alegadamente científicos, pois isso confunde a distinção qualitativa entre verdade bíblica e teoria científica.

– A insinuação de que a ABC² submete a Bíblia à autoridade da ciência, se não desonesta, resulta de uma distorção epistemológica fideísta, incapaz de reconhecer a autoridade localizada que a igreja e a ciência têm, cada uma em sua própria esfera, assumindo que o teólogo e a igreja poderiam legislar na esfera científica. Essa distorção fideísta do olhar causa uma falsa impressão sobre o trabalho da ABC². Em nosso entendimento, a harmonia fundamental entre o trabalho teológico e o trabalho científico só pode emergir quando cada campo respeita a soberania e autoridade do outro.

 

É deplorável a afirmação de que a ABC² seja “globalista”:

– Conforme afirmado acima, a ABC² promove o diálogo intelectual entre a fé cristã e a ciência. Embora as Escrituras cheguem a diferentes povos em diferentes versões linguísticas, a Palavra de Deus é a mesma para todas as nações. A ciência, por sua vez, é universal, ou seja, as leis naturais valem para todo o universo. Portanto, tanto a teologia quanto a ciência se orientam pela crença em uma realidade objetiva, pela busca da veracidade e pelo estabelecimento da universalidade. Assim, é mais do que esperado que o diálogo entre esses dois campos seja revestido do caráter de universalidade e que, na medida em que se identifique espaços de ressonância entre eles, se caminhe para a formação de amplos consensos acerca dos pontos em questão. Isso tem a ver com aspectos intrínsecos a esses dois campos e independe de quem financia a investigação. É, assim, desonesto recorrer ao internacionalismo da ciência e de suas fontes de financiamento para associá-la automaticamente com a atividade de um globalismo elitista.

– Repudiamos a tese conspiratória, cínica e perigosa de que os esforços científicos internacionais seriam meros joguetes de forças ideológicas e espirituais anticristãs, sob a égide desse “globalismo”. Ainda que existam debates verdadeiros e necessários sobre esse fenômeno, a destruição da confiança social na atividade científica não é uma resposta válida.

– Repudiamos a metodologia da alienação cognitiva adotada pelos promotores do espírito conspiratório. A alienação cognitiva busca destruir a legitimidade das instituições básicas da sociedade, como a república, as igrejas, a ciência e a imprensa, alimentando o sentimento de desamparo e de ressentimento, de modo a transformar populações em massas de manobra política. A alienação cognitiva combina a estimulação da credulidade de pessoas carentes de conhecimento especializado com a semeadura de suspeitas gratuitas entre fiéis, de modo a usá-los contra inimigos reais ou imaginários.

– Repudiamos o abuso da autoridade religiosa para promover narrativas conspiratórias e fantasiosas, baseadas em suposições sem provas ou em sentimentos e aparências, de modo a alienar os fiéis e influenciá-los politicamente; e ainda mais o uso da alienação para doutrinar fiéis sobre assuntos científicos que estejam fora do escopo do ministério cristão.

– Lamentamos profundamente que líderes cristãos empreguem o paupérrimo e imoral expediente de capitalizar suas teorias de religião e ciência empregando o conspiracionismo de Olavo de Carvalho e o método perverso da alienação cognitiva como forma de assustar e manipular crentes evangélicos para afastá-los do debate moderno de religião e ciência, e de tentar destruir a imagem da ABC². Consideramos esse expediente um testemunho da falência intelectual e moral de nossos opositores.

 

É verdadeira a afirmação de que realizamos um encontro com alguns dos mais importantes pastores do Brasil:

– Tivemos a grande satisfação de realizar em São Paulo, em agosto de 2018, um encontro de três dias com importantes pastores brasileiros, para refletir sobre as atividades da ABC2 e sobre como a igreja pode se unir para um testemunho acadêmico mais efetivo. Nesse encontro, ficou claramente estabelecido que a ABC2 não requer de seus membros a adesão a qualquer visão particular sobre a questão das origens. Ficou claro, também, para esses pastores, que a ABC2 é uma organização a serviço da igreja brasileira, razão pela qual nos honraram (e nos honram) com o seu precioso apoio.

 

Diante dos esclarecimentos aqui prestados, de caráter inteiramente factual e destinados a suprir qualquer presumível ignorância, a disseminação continuada de falsidades como as mencionadas acima implicará no tratamento correspondente e público ao que, de fato, passarão a ser: mentiras.

 

 

Conheça

Deus, o Cosmos e a Humanidade

um curso fundamental aos que almejam formação sólida

para servir o Senhor junto ao mundo acadêmico

 

Compartilhe a ABC²