Entrevista concedida por Francis Collins ao jornalista Peter Wehner, da revista The Atlantic, em 17/03/2020


Leia a parte 1 aqui, onde Collins fala sobre a Pandemia de Coronavírus.


Francis Collins é um cientista cristão, autor do livro “A Linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que Ele existe” (Editora Gente, 2007) e criador da Fundação BioLogos. Nesta 2a. e última parte da entrevista, ele fala sobre sua conversão à fé cristã e sobre sua amizade incomum com o neoateísta Christopher Hitchens.


coronavirus

A crise do coronavírus é apenas o capítulo mais recente da deslumbrante carreira de Francis Sellers Collins.

Collins cresceu em uma fazenda na zona rural da Virgínia – estudou em casa até a sexta série -, recebeu diploma de bacharel em química pela Universidade da Virgínia, PhD em físico-química pela Universidade de Yale e doutorado com honras pela Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. (Ele completou seu doutorado em seu primeiro ano na faculdade de medicina.)

Certa vez, Collins me disse em conversa particular o que aqueles que o conhecem melhor podem testemunhar: ajudar as pessoas que sofrem sempre foi um compromisso. Isso foi parte do que explicou sua mudança de foco da físico-química para a medicina. “Embora eu adorasse a experiência de trabalhar em mecânica quântica e lutar com equações diferenciais de segunda ordem, isso era muito solitário,” disse ele. “Não tinha esse tipo de conexão humana que eu estava começando a desejar. E isso me levou a procurar outra maneira de explorar a ciência que seria mais sociável, mas também mais dedicada a resultados, que ajudaria as pessoas que estavam sofrendo – e a medicina era o caminho perfeito a seguir, mesmo que parecesse um distanciamento bastante dramático da carreira em que eu estava.”

Collins finalmente chegou à Universidade de Michigan, onde passou nove anos na faculdade, focado em medicina interna e genética, e conheceu sua futura esposa, Diane Baker. Em Michigan, Collins fazia parte de uma equipe que, entre outras coisas, identificou o principal defeito genético que causa a fibrose cística, uma das causas genéticas de morte mais comuns nos Estados Unidos.

Em 1993, Collins ingressou no NIH, a principal organização mundial de apoio à pesquisa biomédica e liderou o Projeto Genoma Humano. Ele fez descobertas marcantes das origens genéticas de vários distúrbios e foi o líder de um esforço que revolucionou a prática da medicina: o anúncio, em 26 de junho de 2000, de que os cientistas haviam completado o primeiro mapeamento de todo o genoma humano, o conjunto de instruções que define o organismo humano. Este feito revolucionou o diagnóstico, a prevenção e o tratamento da maioria das doenças humanas. O New York Times descreveu isso como “uma conquista que representa um ápice do autoconhecimento humano,” e o avanço que está entre os mais significativos da ciência médica na história. (Collins recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade em novembro de 2007.)

Refletindo sobre os eventos de 20 anos atrás, Collins me disse: “Pensei muito no que diria naquela manhã e escrevi [meu discurso] às cinco da manhã. Foi particularmente comovente porque minha cunhada havia morrido de câncer de mama alguns dias antes, eu havia falado no funeral dela naquele sábado, e na segunda-feira de manhã estava falando sobre como o sequenciamento do genoma humano iria ajudar em muitas coisas, incluindo câncer – mas isso não tinha chegado rápido o suficiente para ela. Então, eu tinha isso muito presente em mente.”

Mas seu trabalho anterior sobre fibrose cística já o havia ensinado que traduzir pesquisas básicas em tratamento pode ser complicado. “Na época”, ele me disse, “esse era um momento de celebração, porque finalmente tínhamos uma resposta e finalmente podíamos fazer um diagnóstico preciso, e esperava que isso pudesse levar rapidamente a melhores tratamentos para todos esses jovens adultos e crianças que sofrem desta doença. Foi uma jornada longa e difícil fazer com que o lado terapêutico disso começasse a funcionar. ”

O grande momento ocorreu 30 anos depois, em novembro do ano passado, quando foi anunciado que, com base em rigorosos ensaios clínicos, uma terapia com três drogas proporcionaria, se não uma cura, certamente uma notável melhora na experiência de vida de 90% das pessoas com fibrose cística, que agora poderiam viver uma vida normal.”

“Eu tive chance de estar lá em Nashville naquele dia, quando esse anúncio estava sendo feito,” disse Collins. “Esta é uma comunidade da qual estive próximo todos esses 30 anos, mesmo quando meu laboratório não estava mais trabalhando em fibrose cística. Nos anos 90, eu havia escrito uma música sobre o que todos esperávamos que acontecesse algum dia, uma música chamada “Dare to Dream” [Ouse sonhar]. Agora esse sonho estava se tornando realidade. Naquele momento, com 5.000 pessoas reunidas como cientistas, profissionais de saúde, famílias, pessoas com fibrose cística, todas presentes no mesmo espaço, cantamos essa música juntos.”

“Rapaz, foi difícil passar por aquilo sem realmente desabar, por causa de  todas as pessoas representadas ali e o que elas passaram, a coragem, a determinação, e a convicção delas de que isso poderia acontecer – representadas ali da maneira mais dramática possível. Foi como  um momento de gratidão, que a graça de Deus de alguma forma nos levara àquele ponto. Jamais vou esquecer isso.”

Conheci Francis Collins quando eu trabalhava na Casa Branca durante a presidência de George W. Bush. Ele, Michael Gerson, redator-chefe do presidente, e eu almoçamos na ala oeste para discutir não política, mas ciência e fé. (Todos os três estávamos preocupados com alguns cristãos proeminentes que estavam negando a evolução, o que sabíamos ser anticiência, e entendíamos que isso estava desacreditando o testemunho cristão.) A maioria daqueles que conhecem Collins o associa à ciência; poucos sabem sobre seu interesse pelo testemunho cristão. Então, pedi a ele para descrever sua jornada de fé.

Quando criança, a formação religiosa de Collins consistiu em ser enviado ao coral da igreja Episcopal local para aprender música, “instruído por meu pai a ignorar o resto, o que eu fiz,” ele me disse. Na faculdade e depois na pós-graduação, ele se viu passando da categoria de agnóstico para ateu. “Eu teria desafiado qualquer um que quisesse trazer à conversa alguma discussão sobre Deus. Eu teria dito que estavam basicamente presos a alguma época passada de sobrenaturalismo que não é mais necessária, porque a ciência eliminou a necessidade disso,” foi como ele me colocou. Mas chegou o momento em que, como estudante de medicina do terceiro ano, ele não estava mais aprendendo sobre o corpo humano em uma sala de aula; ele estava sentado ao lado de pessoas com doenças terríveis, a maioria das quais os médicos tinham apenas métodos imperfeitos para poder ajudar.

“Observando o destino dessas pessoas, o que viria em breve, o fim de sua vida, ficava tentando imaginar o que eu faria nessa circunstância,” compartilhou Collins comigo. “Isso foi na Carolina do Norte e havia muitos indivíduos maravilhosos, muitos deles tendo vidas relativamente simples, mas vidas totalmente dedicadas a ajudar outras pessoas. Muitas dessas pessoas estavam profundamente comprometidas com a fé. Fiquei perplexo e inquieto ao ver como eles se aproximavam de algo com o qual eu pessoalmente estava bastante aterrorizado: o fim de suas vidas. Eles tinham paz e serenidade, e até uma espécie de sentimento de alegria por haver algo além. Eu não sabia o que fazer com isso.”

“Isso me fez perceber que eu nunca havia realmente ido além da consideração mais superficial sobre a existência de Deus ou uma consideração séria sobre o que acontece depois que você morre.”

Collins me contou sobre uma paciente à qual ele havia se apegado bastante – “ela me lembrava minha avó” – disse ele – e que sofria de uma doença cardíaca avançada, que incluía episódios quase diários de esmagadora dor no peito. “E, no entanto, ela passava por tudo isso com uma paz notável e ficava muito confortável em compartilhar as razões disso comigo, ou seja, sua fé em Jesus. A certa altura, após um daqueles momentos de partilha, ela olhou para mim de uma maneira interrogativa e disse: ‘Sabe, doutor’ – ela me chamava de doutor, embora eu ainda não fosse – ‘Você me ouviu falar sobre minha fé, mas você nunca diz nada. Em que você acredita?’ Uma pergunta muito simples e direta, mas foi como um estrondo. Como a compreensão de algo do qual eu não conseguiria escapar, aquela foi a pergunta mais importante que já me haviam feito.”

Mais tarde, Collins conheceu um pastor metodista, Sam MacMillan, que foi “um parceiro muito solícito para comigo, tolerando minhas perguntas blasfemas e me assegurando que, se Deus fosse real, haveria respostas.” Foi MacMillan quem introduziu Collins aos trabalhos de C. S. Lewis, começando com Cristianismo Puro e Simples. ¹

“Percebi nas duas ou três primeiras páginas desse livro que a maioria das minhas objeções contra a fé era muito simplista. Eram argumentos de um estudante. Ali estava um gigante intelectual de Oxford, que havia percorrido o mesmo caminho do ateísmo à fé e tinha uma maneira de descrever como isso fazia sentido, que era totalmente desarmante. Isso era também muito perturbador. Não era a resposta que eu estava procurando.” Mas foi, para Collins, a resposta que acabou encontrando e, aos 27 anos, tornou-se cristão.

O abraço dessa fé transformou não apenas seu relacionamento com Deus, mas também como via as outras pessoas e a si mesmo. “Como Lewis disse, todas elas são anjos ao seu redor. E a noção de que não há problema em se colocar no banco do condutor seja como for, independentemente do efeito que isso tenha sobre os outros, é simplesmente indefensável. Acho que isso tirou de mim o que era uma atitude muito forte e ambiciosa de conduzir as coisas e a moderou, não digo que eu não tenha retido uma parcela razoável disso, mas talvez tenha agora uma abordagem um pouco mais amorosa e perdoadora.”

Quando perguntei a ele como ele vê a fé agora, com 60 e tantos anos de idade, em comparação com a maneira como ele via as coisas com 20 e poucos, ele me disse: “Acho que cheguei também a um ponto em que a minha fé se tornou um forte suporte para eu lidar com os desafios da vida. Levou um tempo, eu acho – o senso de que Deus é suficiente e que não preciso ser forte em todas as circunstâncias.”

Achei isso impressionante, principalmente neste momento. “Um dos meus grandes quebra-cabeças quando me tornei cristão é esse versículo: ‘Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza’”, ele me disse. “Isso era tão completamente o reverso para mim. Fraqueza? Agora eu abraço isso com a plenitude de tudo ao meu redor ao perceber que minha força é inadequada; seja coronavírus ou alguma crise familiar, a força de Deus é sempre suficiente. Esse é um grande conforto, mas levei  muito tempo para chegar ao ponto de realmente me apropriar disso.”

Collins foi o fundador e a força criativa por trás da BioLogos, uma organização que convida a igreja e o mundo a ver harmonia entre a ciência e a fé bíblica. (A BioLogos foi lançada no momento em que Collins foi convidado pelo presidente Obama para se tornar diretor do NIH, em abril de 2009, o que exigia que ele não tivesse outras afiliações com quaisquer outras organizações.)

Perguntei a Collins o que ele mais deseja que os cristãos entendam sobre ciência e o que mais deseja que os cientistas entendam sobre fé.

“Para os cristãos, eu diria, pense na ciência como uma dádiva do Criador. A curiosidade que nos foi incutida para entender como o universo funciona pode inspirar ainda mais admiração ao Criador. De forma alguma, esta dádiva poderia ser uma ameaça para Deus, o autor de tudo. Celebre o que a ciência pode nos ensinar. Pense na ciência como uma forma de adoração.”

“Os cientistas, por sua natureza, tentam entender como a natureza funciona. Acho que a mensagem para os cientistas deve ser que existem questões realmente importantes que estão fora do que a ciência é capaz de abordar de maneira significativa, como: ‘Por que há algo em vez de nada? Qual é o significado do amor? Existe um Deus? O que acontece depois que você morre?’ Essas não são perguntas para as quais a ciência ou os métodos científicos podem ser aplicados.” Ele acredita que os cientistas seriam mais beneficiados se deixassem de lado a mentalidade que diz que as únicas perguntas que vale a pena fazer são as que se referem ao mundo material.

“Isso restringe o universo das questões importantes ao assumir que todas são questões que a ciência pode abordar.”

Dizia-se de Freud que ele odiava e temia a música porque ela o afetava com muita força e ele não sabia explicar o porquê. Quem conhece bem Francis Collins está ciente de seu dom pela música e de seu amor por ela. “Fazer parte de uma experiência musical produz algo na minha alma,” ele me disse. “De fato, temos agora um momento realmente interessante para tentar entender essa conexão, porque a neurociência está progredindo rapidamente em termos de como a música tem a capacidade de nos afetar de maneira tão poderosa.” Ele acrescenta: “Penso que a música fornece vislumbres do que Lewis chamou de alegria, aqueles momentos em que você tem uma sensação de algo profundamente desejável, mas assim que você começa a percebê-lo, ele escapa de entre seus dedos. A música me leva até lá, provavelmente mais do que quase qualquer outra experiência.”

Collins lembra-se de ter 12 anos de idade em um culto na véspera de Natal, em que havia um coro e um órgão tocando, e “apenas sentir que havia algo profundo acontecendo que me levou a ansiar por algo que eu realmente não podia dizer o que era. E é isso que a música é capaz de fazer. Então nos dá um vislumbre de algo intensamente desejável. Pode fornecer um caminho para a incrível bondade e amorosa benevolência de Deus – e, de alguma forma, através da experiência da beleza, nesse caso a beleza musical, você pode tocar [Deus] por um instante.”

Uma última história que vale a pena conhecer sobre Francis Collins. O cenário: um jantar após um debate em 11 de outubro de 2007 na Universidade de Georgetown entre Christopher Hitchens, um escritor, polemista e ateu proeminente, e Alister McGrath, teólogo e apologista cristão da Irlanda do Norte. Eu assisti este evento, assim como Collins.

Quando os anfitriões do jantar abriram para as perguntas da audiência, Collins fez uma pergunta a Hitchens da seguinte forma: Se você defende que não há base para a moralidade humana além das respostas evolutivas à sobrevivência, alguém pode argumentar que não há fundamento moral objetivo para o bem e o mal, que estes são na verdade miragens, conceitos nos quais fomos ludibriados por nossos ancestrais evolutivos. O que você diria sobre isso?

Hitchens respondeu rapidamente e com desdém, dizendo que ficava chocado que uma das maiores mentes científicas do mundo fizesse uma pergunta tão superficial e boba, mas ele na verdade não respondeu. A audiência, entretanto, ficou surpresa com sua grosseria, assim como eu, alguém que era amigo de Hitchens. Depois que o jantar terminou, Collins procurou Hitchens para falar com ele em uma área do jardim, na esperança de continuar a conversa.

“Eu também não diria que aquilo foi particularmente bom,” Collins me disse, “mas me pareceu que ele [Hitchens] era um sujeito bastante interessante e que poderia haver uma oportunidade de ir um pouco mais fundo do que aquela resposta superficial. Então eu deixei isso de lado.”

Pouco tempo depois, Collins foi convidado para ir a um apartamento de tamanho modesto em Friendship Heights, um bairro residencial em Washington, DC, por alguém que queria ter uma discussão, uma espécie de conversa aberta, sobre vida e fé.

“Fui sem ter ideia de que o que realmente havia sido armado era um debate entre Hitchens e eu,” disse-me Collins. “Enquanto todo mundo tomava seu coquetel e assistia, nós nos aprofundamos mais naquela questão. Foi um pouco mais útil; ele estava um pouco mais disposto a se envolver a fundo. Foi uma conversa mais respeitosa, que teve substância; outras pessoas se envolveram e fizeram perguntas, e foi uma noite bastante útil.”

Após o término da reunião, Collins e Hitchens se engajaram em uma discussão mais pessoal que os iniciou “em um caminho em que poderíamos estar em extremos completamente opostos no que dizia respeito à harmonia entre ciência e fé, mas poderíamos também ter uma conversa significativa sobre outras questões importantes da vida sem pôr muito peso nisso.”

Então, no verão de 2010, Collins soube, junto com o resto do mundo, que Hitchens havia sido diagnosticado com um câncer de esôfago que havia se espalhado, doença que iria levá-lo à morte em dezembro de 2011. “Naquele momento eu o procurei, mostrando minha disposição em fazer qualquer coisa que pudesse ajudá-lo a descobrir quais seriam as opções, sabendo que essa era uma daquelas coisas em que a terapia padrão provavelmente não ofereceria muito”, Collins me contou. “Ele rapidamente percebeu isso e começou uma série de reuniões em seu apartamento, em que me convidava para conversar – ostensivamente sobre suas decisões médicas, mas terminando, em geral, em uma conversa muito ampla. Conversar com Christopher [Hitchens] sempre foi intensamente interessante; seja sobre Thomas Jefferson ou sobre câncer de esôfago, você sabia que haveria um momento de provocação proporcionado por uma quantidade razoável de álcool. Nesse processo, conheci sua esposa, Carol Blue, e sua filha. Tornamo-nos bons amigos nessa ocasião, embora obviamente com visões muito diferentes sobre as verdades fundamentais da fé cristã, que ele continuou desconsiderando.”

Collins ajudou a identificar para Hitchens a possibilidade de tirar proveito dos avanços da genômica. Um protocolo da Universidade de Washington em St. Louis acabara de ser anunciado, pelo qual seria possível fazer uma análise completa do DNA dos cânceres de esôfago para ver qual tratamento medicamentoso poderia ser particularmente apropriado em cada caso.

“Essa análise genômica foi realizada e sugeriu algumas alterações na maneira como a doença dele estava sendo abordada, o que penso pode ter dado a ele mais alguns meses, embora não possa provar isso. Continuamos a conversar sobre isso de vez em quando, sentados juntos em seu apartamento, vendo o sol se pôr. Eu ocasionalmente tocava piano. E as coisas começaram a piorar gradualmente. Lembro-me de uma ocasião em que ele foi internado com urgência no Hospital Georgetown.”

Collins foi ver Christopher, que estava em péssimas condições naquele momento, embora se recuperasse. “Então, gradualmente, as coisas o impediram de continuar seu estilo de vida muito enérgico, passando a ter mais e mais dificuldades com o câncer, e a nossa comunicação passou a ser mais por email.” Collins disse sobre Hitchens: “Ele era muito respeitoso. Realmente nunca houve uma circunstância em uma conversa particular em que Christopher dissesse coisas depreciativas sobre a fé ou sobre as pessoas de fé. Curioso, sim, testando, ah, sim, mas não destratando.”

O próprio Hitchens, em um artigo publicado na revista Vanity Fair 15 meses antes de sua morte, referiu-se a Collins como “o melhor dos crentes,” um “grande humanitário” e “um dos maiores americanos vivos.” Sua afeição pelo homem que certa vez tratara com desdém não tinha disfarces.

No final da minha entrevista com Collins, perguntei a ele o que havia de especial no relacionamento com Hitchens. “Sabe, acho que foi a oportunidade de ver o que há por trás de uma perspectiva muito dura que normalmente lhe deixaria muito desconcertado. É um lembrete do fato de que, se realmente queremos nos entender, não podemos nos deixar levar por esse tipo de perspectiva superficial, reconhecidamente difícil de ouvir. Existe humanidade real em todos. [Hitchens] era uma pessoa intensamente curiosa sobre tudo. Era um cara que se importava profundamente com sua esposa e filha. Era um cara sob muitos aspectos um pouco isolado, talvez um pouco solitário, que apreciava a chance de desenvolver uma amizade, especialmente com alguém que era muito diferente dele.”

Na sexta-feira, 20 de abril de 2012, em um serviço memorial para Hitchens, Collins falou e tocou sua “Hitchens Sonata” no piano. Foi um momento belo e emocionante, um ato de amizade de um homem de grande graça.

Christopher Hitchens estava certo sobre Francis Collins. Ele é o melhor dos crentes.


Tradução: Roberto Covolan


Notas

  1.  A história narrada aqui é contada com mais detalhes no Cap.7 do livro “Verdadeiros Cientistas, Fé Verdadeira”, Editora Ultimato, 2016 (N.T.).

Leia em seguida: Coronavírus e Progresso

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