revolta dos robôs

O maior perigo da tecnologia não pode ser a revolta dos robôs. Eles são muito mais sutis.

O mito grego de Prometeu e a introdução ao fogo adverte sobre as consequências da tecnologia e, até hoje, não é incomum encontrar pessoas que veem a tecnologia com uma certa quantidade de pessimismo resignado. Parece que virou moda em tempos pós-modernos ver a tecnologia com uma certa dose de desespero. Futuristas pintam um quadro sombrio de um novo mundo no qual as poderosas e sinistras tecnologias são onipresentes e invadem toda a vida, e muitos filmes recentes retratam cenários de como a tecnologia irá se virar contra nós e, finalmente, tornar-se uma ameaça para a humanidade.

Daniel Wilson, um pesquisador de robôs, teve um olhar bem-humorado sobre esses medos em um livro recente intitulado How to Survive a Robot Uprising: Tips on Defending Yourself Against the Coming Rebellion (Como sobreviver a uma revolta dos robôs: dicas para defender-se contra a chegada da rebelião). Neste livro, ele adverte que “qualquer máquina pode rebelar-se, de uma torradeira a um Exterminador.” Seu livro é completo com conselhos práticos sobre como sobreviver e escapar à itinerância de robôs predadores.

Há muitas preocupações legítimas sobre a tecnologia da computação (não obstante as revoltas de robôs). Neil Postman, por exemplo, argumentou que a tecnologia não é neutra e de fato muda as coisas. Ele observa que os designers de tecnologia incorporam seus valores pessoais ou corporativos em artefatos técnicos e, como resultado, os objetos tecnológicos são inclinados para determinados usos, que por sua vez influenciam o usuário a usá-los de uma determinada maneira. A tecnologia tem uma maneira de mudar as coisas.

Não acho que o maior perigo da tecnologia virá na forma de uma revolta de robôs ou tendo máquinas descontentes escravizando a humanidade. Acredito que o maior perigo da tecnologia é muito mais sutil: é a forma como algumas destas mudanças arrastam-se em nossas vidas e afetam a forma como nos relacionamos, a maneira que nós gastamos nosso tempo e a maneira que definimos as nossas prioridades. A tecnologia trouxe alterações à forma como trabalhamos, à nossa educação, à nossa vida pessoal e até mesmo à nossa adoração. Estas práticas formam hábitos, e hábitos têm uma maneira de moldar nossos corações. Talvez não precisemos precaver-nos contra uma possível revolta de robôs, mas precisamos guardar nosso coração, pois é a “fonte da vida” (ver Provérbios 4.23).

Devido à forma como a tecnologia pode efetuar uma mudança, alguns a veem com desespero, como se de alguma forma fosse mais caída do que outras atividades humanas. Mas não há nada inerente à tecnologia que deva levar à rejeição ou ao desespero; embora caída, a tecnologia é outra parte do potencial latente na boa criação de Deus, na qual nós podemos nos deliciar. E, assim como em outros aspectos da criação, somos chamados a ser mordomos fiéis dos recursos, empregando a tecnologia de uma forma responsável que responde ao chamado de Deus para amarmos nosso próximo e para cuidarmos da terra e de suas criaturas. Em vez de contribuir para o medo ou desespero, a tecnologia deve contribuir para o Shalom.

Como então viveremos com a tecnologia? De que forma a tecnologia nos molda? Que lugar a tecnologia ocupa em nossa sociedade e em nossas vidas? Estes são os tipos de perguntas que cristãos que pensam deveriam se envolver.


Texto original aqui.

Traduzido por Breno Perdigão e revisado por Jonathan Silveira.


Derek C. Schuurman (Ph.D., McMaster University) é professor de ciência da computação e assume a cadeira do departamento de ciência da computação na Redeemer University College em Ancaster, Ontario. Schuurman é engenheiro na província de Ontario, membro do Institute of Electronic Engineers (IEEE), da Association of Christians in the Mathematical Science (ACMS), bem como da ACM Special Interest Group on Computer Science Education (SIGCSE).


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