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Quais são as responsabilidades dos professores universitários no diálogo entre fé e ciência?

 

Bem, as responsabilidades de um professor universitário, em alguns aspectos, são como as mesmas de qualquer profissional. Incluem fazer o seu trabalho de forma absolutamente magistral com o padrão mais alto do que se é capaz. E para a maioria dos professores em Oxford e, provavelmente, para a maioria das universidades do mundo também, eles têm três principais áreas de responsabilidade: promover a pesquisa, promover o ensino e cuidar de aspectos administrativos que são necessários para apoiar os dois primeiros.

Desse modo, como um professor universitário eu tenho essas responsabilidades bem definidas. Sou particularmente privilegiado em Oxford porquê de uma forma ou de outra, desde 2002, eu estou licenciado da sala de aula para cuidar exclusivamente de pesquisa. E eu procuro fazer isso com a melhor das minhas habilidades. É um tipo de responsabilidade multifacetada. Significa que tentamos identificar os problemas que são importantes e em que medida uma nova aprendizagem ou um novo conhecimento faria alguma diferença que poderia ser uma diferença intelectual, ou, no meu caso, diferença tecnológica. De todo modo, você está sempre tentando encontrar não apenas os problemas que são importantes, mas aqueles sobre os quais recai uma razoável perspectiva de progresso.

Você pode nos contar um pouco mais sobre seu campo de estudo? Se você pode ver em seu próprio trabalho alguns reflexos, em trabalhos científicos, algum reflexo de questões supremas que conectam você a fé, a Deus?

Pesquiso sobre o desenvolvimento de materiais para tecnologias quânticas. Estas são tecnologias que são utilizadas nestes fenômenos notáveis ​​que as teorias quânticas nos oferecem. Assim, um átomo pode estar tanto aqui como ali ao mesmo tempo de uma forma que é completamente diferente da nossa experiência cotidiana. E, de fato, se você tiver mais de um determinado objeto quântico é possível obter um entrelaçamento entre eles no formato de braços sendo cruzados. E isso leva a correlações que vão além de qualquer elemento que a nossa experiência cotidiana possa nos dar. E são correlações como essas que dão à computação quântica um potencial espetacular.

E dentro da teoria quântica há questões em que, mesmo depois de oitenta anos, não há consenso entre os cientistas que trabalham na área. Um exemplo: o estado quântico é real ou está para ser medido, descrito matematicamente, a partir de um provável resultado? Não há consenso sobre isso. Ou, mais ainda, não há acordo sobre o que significa fazer uma medição. Não há consenso sobre isso entre os cientistas. Todos os dias fazemos medições no meu laboratório e não há um acordo até mesmo lá sobre o que é medição e o que acontece quando se faz uma medição.

E dentro de minha própria pesquisa, ao longo dos últimos anos, nós fomos capazes de projetar e realizar uma série de experimentos que puderam realmente testar algumas das interpretações que os cientistas têm atribuído. E fomos capazes de descartar algumas dessas hipóteses.

Então, eu considero isso bastante notável! Você pode tomar essas questões filosóficas profundas sobre a natureza da realidade e realmente fazer experimentos em laboratório que o ajudam a responder a essas perguntas ou para excluir certas respostas a essas perguntas. A natureza da realidade é importante em um contexto mais amplo na vida. Porque se você acredita que a verdade é real, que o certo e o errado são reais, que a oração é real, que Deus é real, você pode perguntar o que é que eu quero dizer pelo termo “real”. E assim, será capaz de aplicar o rigor de uma ciência para tentar resolver esta questão, que eu acho que é uma contribuição útil.

E eu acho que há outra lição que podemos aprender com estes estudos científicos. Algum crítico poderia dizer para mim: “como você pode continuar com integridade intelectual para desenvolver tecnologias quânticas, sem saber sequer se o estado quântico é real ou não, sem saber nem mesmo o que acontece quando faz uma medição quântica, se você não pode responder a questões básicas como essas, como você pode continuar fazendo experiências de campo? ” E a resposta é que a teoria quântica é muito robusta e o potencial dessas tecnologias é muito pujante para abandoná-las enquanto eu espero as respostas para essas perguntas. Então eu tenho que continuar sem perder o interesse nas perguntas, sem perder o desejo de respondê-las.

Agora você pode ver a analogia com a vida de fé. Enquanto cristão, há questões muito difíceis de se responder: por que existe tanto sofrimento? O que acontece quando eu oro? Como Deus age no mundo? Estas são perguntas difíceis e provavelmente não há consenso entre os crentes para respondê-las. E, no entanto, a vida de fé é muito importante, a vida de oração é muito importante para colocá-las de molho enquanto você espera por uma resposta a essas perguntas. E, eu acho que, nesse contexto, você pode aprender com o que eu estive falando na ciência, que é possível continuar a praticar uma atividade mesmo sem ter as respostas a todas as questões fundamentais, mas sem perder o desejo de compreender essas questões de forma melhor.

 

 

 

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