Quinhentos anos se completam desde a memorável Reforma Protestante –  o movimento reformista cristão cujo início é comumente associado a Martinho Lutero no início do século XVI, mais especificamente, 31 de outubro de 1517, com as 95 Teses afixadas nas portas da Catedral de Wittenberg e seu conteúdo iluminador.

Em sua obra, Lutero rejeita a ideia de que Deus simplesmente estabeleceu uma ordem universal e depois abandonou sua criação. Assim, o relacionamento entre estudos científicos, filosóficos e cristãos teve seguimento com os líderes protestantes e ainda procura se firmar em um diálogo fundamental.

Martinho Lutero não acreditava que a ciência era uma contradição às Escrituras, mas que, apesar de a Bíblia ser autossuficiente e integral, um enriquecimento de perspectiva podia ser estabelecido, utilizando-se métodos instrutivos para interpretar o mundo e ampliar nossa compreensão da criação em sua totalidade.

Em relação à astrologia, por exemplo, Lutero observou as previsões, os estudos e a divulgação fracionária dos resultados, publicadas somente quando os resultados se encontravam verdadeiros. Como sábio observador, ele concluiu, por fim, ser um incrédulo quando “a partir de observações parciais uma ciência era estabelecida“. (L.W., Vol. 1, pp. 44-45 – American Edition of Luther’s Work).

João Calvino, um dos teólogos cristãos mais inspiradores e influenciadores da Reforma Protestante, acreditava que a ciência e o estudo da razão eram dádivas para a humanidade. No livro “As Institutas da Religião Cristã”, Calvino afirmou: “A partir de uma pesquisa geral sobre a raça humana, parece que uma das propriedades essenciais de nossa natureza é a razão, que nos distingue dos animais inferiores, assim como estes pelo meio do sentido se distinguem dos objetos inanimados. Pois, embora alguns indivíduos nasçam sem razão, esse defeito não prejudica a bondade geral de Deus […] ”.

Calvino declarou também: “O que devemos dizer das ciências matemáticas? Devemos considerar que elas são os sonhos de loucos? Não, não podemos ler os escritos dos antigos sobre esses assuntos sem a maior admiração; uma admiração que a sua excelência não nos permita reter… Mas se o Senhor se agradou de nos ajudar pelo trabalho e ministério dos homens na física, dialética, matemática e outras ciências similares, aproveitamos isso. Ao negligenciar os dons de Deus oferecidos espontaneamente a nós, somos justamente punidos por nossa preguiça”.

Dessa forma, neste momento especial de celebração dos 500 Anos da Reforma, relembramos que a ciência deve fazer parte do pensamento cristão, como assim destacam os pensadores da Reforma. Descobertas científicas incitam novos questionamentos teológicos e, consequentemente, avanços dentro do pensamento crítico dos protestantes e da sua vida cristã.

por Ana Elisa – Equipe ABC²

 

 

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